Duas vezes um homem de seus 60 anos saiu da sala para buscar mais pipoca durante a projeção de “Zona Verde”.
E ele parecia nem aí por perder algum trecho.
O resto das cerca de 20 pessoas também se mostravam meio desatentas. O clima era de “deixe o tempo rolar”. Nenhuma tensão, nenhuma expectativa.
Assim é o novo filme do bom diretor Paul Greengrass.
Você não se importa muito com as imagens, com a trama, com a guerra.
É exatamente o contrário de “Guerra ao Terror”. Tudo o que o filme de Kathryn Bigelow tem de pavor, medo e gravidade, “Zona Verde” traz de irrelevância, de momentos pouco memoráveis.
Matt Damon (que fez grande parceria com Greengrass nos filmes do agente Bourne) interpreta um sub-tenente que vai para o Iraque logo no começo da guerra de 2003.
Encarregado de encontrar as armas químicas de destruição em massa, que foram a desculpa da hora para a invasão, ele se frustra ao apenas arrombar galpões vazios cheios de cocô de pombos. Cadê a ameaça? Então era tudo mentira?
Coitado do Matt. Enganado pelo rei Bush.
Por uma hora e meia seguimos agentes da CIA, jornalistas ingênuas doidinhas por descobrir a verdade, insubordinações, iraquianos “do bem”, outros que tinham a fuça no baralho da desonra etc.
E por que nada cola?
Alguns chutes: a irritante câmera cheia de chicotes e treme-treme (um exagero aqui – sendo que foi muito bem usada em Bourne e “United 93”); o heroísmo meio capenga de um sub-tenente subitamente tocado pela verdade; bons personagens secundários que pouco têm o que fazer…
Fato é que buscar mais pipoca não seria má opção.
A parte boa da coisa é que o Iraque continua na ordem do dia e ainda vai render muita discussão interessante.
“Guerra ao Terror”, “Os Homens que Encaravam Cabras”, “O Mensageiro” e agora “Zona Verde” reforçam a safra recente sobre esse conflito que muito vem colaborando para a discussão sobre o poder da imagem.
Mas cadê “Redacted”, de Brian De Palma? Esse sim é um filme que não te deixa espaço no estômago para a pipoca.
Realizado em 2007 e ainda sem aparecer nas telas do país (apenas em exibições especiais), por enquanto esta talvez seja a obra-prima sobre a relação dos soldados estrangeiros com a população iraquiana.
E ainda: é um grande (e impactante) filme sobre verdades e mentiras da imagem. Se é que essas coisas existem numa imagem…
“Zona Verde” poderia muito bem ter dado lugar para De Palma.

O tempo só faz piorar “Zona Verde”. Não tenho problema com inverossimilhanças, não mesmo, mas aqui a coisa sai dos trilhos, com sub-tenente (insight de roteirista pra interligar espectador médio com o herói do filme, homem “comum”?) tendo livre trânsito mesmo desrespeitando toda a hierarquia militar. O que o cara faz é deserção, ora. No mais (no menos), temos uma das piores apropriações de fato histórico para, ficcionalizado, virar cinema. São as chaves do roteiro “exato” para a indústria, dando tudo errado.
A pipoca, muito bem observado.
Abraço
Concordo. Há um “problema de patente” no filme. Matt Damon de repente se transforma num Jack Bauer. Sem nem passar pela CTU. Aí não dá. Abraços.