Esse é o resumo do filme romeno “Como Eu Festejei o Fim do Mundo”, de Catalin Mitulescu:
“Na Romênia dos anos 80, Eva, uma jovem de 17 anos, e seu namorado quebram acidentalmente um busto em gesso do ditador Ceausescu. Ela é enviada para o reformatório e, enquanto tenta fugir, seu irmão mais novo planeja um atentado contra o ditador.”
Pelo menos é o que está estampado na caixinha do DVD para locação.
Quem escreve essas bobagens?
Há uma boa quantidade de desleixo em meia dúzia de linhas.
Bom, eu vi o filme. E é o seguinte:
– “Na Romênia dos anos 80”… Por que não dizer que estamos em 1989, ano da queda do ditador Ceausescu? É fundamental para entender do que se trata a obra descobrirmos que se passa no fim do regime – e não no meio.
– O texto dá entender que Eva tenta fugir do tal reformatório (apesar que na legenda dizem que é uma “escola técnica”, mas como meu romeno é meio capenga, prefiro não entrar nessa discussão). Na verdade, o plano da garota é um pouco mais sofisticado, porque ela tenta escapar da… Romênia! Sim, dane-se o reformatório (ou escola técnica). Eva pretende mesmo atravessar o Danúbio e se mandar da ditadura. Um pouco mais divertido, não?
– Agora vem a minha parte preferida. Sei lá qual foi a intenção (atrair algum guerrilheiro da Vila Madalena, provavelmente), mas nos é informado que o irmão da Eva planeja um atentado contra o ditador. Legal. Só que o tal irmão tem… sete anos! Obviamente que o tal “plano” não passa de mais um devaneio lúdico do simpático Lalalilu (este o nome dele, aliás, genial).
Pois bem. Você, nobre consumidor, lê as letrinhas da caixa de DVD e pensa que vai embarcar numa grande aventura político-social sobre: uma jovem que deve sofrer o diabo num reformatório; e um sujeito qualquer pronto para derrubar um regime sanguinário.
Aí, acaba ficando diante de um bonito filme que retrata de forma irônica, carinhosa e muitas vezes poética o cotidiano de uma família às vésperas da queda de Ceausescu.
Seria como dizer que “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” mostra a desesperadora luta pela sobrevivência de um garoto de doze anos que acaba de perder o avô tragicamente e tenta encontrar os pais desaparecidos durante o regime militar brasileiro. Enquanto isso, ele ainda tem que conviver com um judeu!
Parece implicância, mas casos de erro de informação no material promocional indicam a displicência com que o mercado de DVD às vezes é tratado no país.
Aí reclamam dos piratas quando eles vendem coisas como “O Estranho Caso de Brad Pitt”. Ué, se os oficiais fazem pior.

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