Tenho uma teoria bem picareta sobre “Alice no País das Maravilhas”, de Tim Burton. Acho que o filme não funciona porque temos uma mulher (garota, vá lá) como personagem principal.
Só isso pode explicar a total falta de emoção, de suspense, de terror, de aventura, em algo dirigido por Tim Burton.
Matutando depois de assistir ao longa numa sala 3D (e pela primeira vez senti dor de cabeça e enjôo com esses óculos), lembrei das principais obras do norte-americano pai dos descolados-incompreendidos e tracei um perfil dos seus protagonistas.
Até um geek de 8 anos sabe disso: Burton sempre lida com homens (garotos, vá lá) esquisitos, diferentões, com sérios problemas emocionais, que custam ser compreendidos.
E o mais fascinante de seu universo “Burtniano” (ele já merece um adjetivo, feito Fellini) é que seus moleques mergulham nas trevas, no escuro, no terror, no pretinho básico, na crueldade, para finalmente entender como sobreviver neste mundo (supostamente real).
Como qualquer anti-herói do diretor, Alice também terá que fazer sua jornada por um universo distorcido.
Só que desta vez, temos cores, dragões meio frouxos, uns bichinhos fofos, muita ação e pouco papo.
Parece que não há… crueldade na coisa toda. Ou sou um sádico?
Nosso Deus gótico pisou no freio, foi piedoso, baixou a guarda, não quis nocautear sua protagonista (ok, deixa a pequena com um braço arranhado, mas é só).
Por isso acho que não há tesão do diretor pela sua artista principal.
Coisa, aliás, bem diversa acontece nos dois livros escritos por Lewis Carroll. O inglês sim conseguiu um ritmo impressionante de maravilhas, de aprendizado, de desgraças.
Li em algum lugar uma crítica que dizia “Tim Burton faz sua Alice dark”. Por essas e outras que a rapaziada não confia nos críticos.
Pô, justamente o que Alice não é: dark.
“Alice” é fofo, porra!
Um parque de diversões desses inconseqüentes, de beira de estrada, com uma montanha-russa que promove algum frio na barriga mais por causa do excesso de algodão-doce que você ingeriu do que pela arquitetura do brinquedo. Mas, definitivamente, sem o trem-fantasma, sem a casa mal assombrada.
E o que resta de um roteiro como este se não sentimos o terror da mudança, da transformação, do mundo infantil de Alice virando responsabilidades da vida adulta?
Sobram cenas esparsas, piadas aqui e ali e uma Alice feito barata tonta vagando sem rumo (não à toa a cena do lago de lágrimas caiu fora – como fazer essa Alice quase se afogar em seu próprio desespero?).
Mas é só um chute.
Vai por mim. O sexo do protagonista mudaria tudo.
Aposto que se em vez de Alice, Tim Burton tivesse feito “Vincent no País das Maravilhas”, teríamos aí sim algo memorável, dilacerante, de inesgotável metáforas.
Creio que Burton está mais interessado em como os meninos criam suas fantasias para sobreviver.
Abaixo, “Vincent”, curta de 1982 que apresenta em cinco minutos muito mais do que a hora e meia de “Alice”.

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