Reciclando a arte (ou o lixo)

Descubro graças a um texto do escritor argentino Alan Pauls publicado na “Folha de S.Paulo” que o filme “Wound Footage” foi a sensação do último Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires (Bafici).

Enganação ou vanguarda? A pergunta é velha, mas o curta do alemão (tinha que ser) Thorsten Fleisch aponta para novas e curiosas questões.

O que o diretor fez é chamado de “found footage” (FF – gravações achadas).

O sujeito encontrou um rolo de super-8 (“provavelmente de um turista anônimo”, escreve Pauls) de seis minutos, fez algumas intervenções na imagem (riscos e bolhas) e deixou irritantes (e assustadores) acordes incomodarem nossos tímpanos.

Eis um filme de um homem só. Nada de atores, locações, orçamento grandioso, texto, roteiro… Apenas a manipulação de som e imagem.

Um Duchamp com claquete.

Num mundo assombrado pelo excesso de imagens, explicações, análises e informação, o “found footage” aparece para desconstruir a narrativa, explorar sensações e reciclar tudo o que já produzimos.

David Lynch ainda chega lá.

Ainda Alan Pauls: “E o FF é como um Aleph vanguardista: condensa todas as operações que sobressaltaram a arte no século 20, desde a colagem surrealista até o desvio do situacionismo, passando pela montagem eisensteiniana, a citação à moda Brecht e os gestos de descontextualização do ‘apropriacionismo’ contemporâneo”.

Ulalá. Coisa de museu ou parte do futuro do cinema?

Muitos já acreditam que em breve o texto (o roteiro) vai sumir das imagens e voltar para a literatura e palcos.

Chega de produzir mais imagens. Teremos apenas geniais manipuladores.

Atual não? A reciclagem também pode mudar o mundo da arte.

Ou isso é apenas lixo?

Aqui, o filme: http://vimeo.com/4741823

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