Pelo que eu entendi, a série “Lost” teve uma primeira temporada cerebral e intrigante, apostando na ciência para explicar os mistérios de uma ilha perdida.
E uma última temporada emocional e intrigante, apostando na fé para explicar os mistérios de uma ilha perdida.
No meio de tudo, uma porrada de episódios que no final não significavam mesmo muita coisa.
Nada muito diferente de uma boa novela nacional, certo?
Errado.
Os roteiristas de “Lost” têm uma baita noção de síntese e uma genial capacidade de espalhar por anos algo que mantenha o interesse de milhares de pessoas derramadas pelo mundo.
Pessoas que só querem se sentir respeitadas ao acompanhar uma trama contemporânea e que sabe misturar o clássico com as inovações narrativas promovidas pela TV e cinema.
Resumindo: os caras enchem lingüiça com classe (e muita grana).
O cuidado com a história vai além de lotar a trama com números esquisitos, fumaça preta, citações filosóficas e boas doses de drama e humor.
“Lost” ainda vinha embalada numa trilha de arrepiar, numa direção segura e com um Havaí deslumbrante.
Como diz o sujeito no vídeo abaixo, na série produzida por J.J. Abrams a história importa menos do que o jeito de contá-la.
Trinta e cinco novas séries vão aparecer em breve no verão da TV norte-americana.
O ritmo é industrial, de fôlego, com apostas em formatos (mais dinâmicos) e também consolidando gêneros já estabelecidos (sitcom clássica, de estúdio).
Há uma diversidade fenomenal, surreal para quem escreve pra TV aqui no Brasil.
Ainda apostamos tudo nas novelas e em seriados banais.
Temos um ou dois produtos realmente interessantes (acho que “A Grande Família” é talvez a única que tem uma identidade; e “Som e Fúria” foi uma boa série nacional).
O resto é esquisito, antigo, sem ritmo.
Faltam apostas, qualidade e quantidade.
Bom, falta tudo.
E dinheiro?
Aí já não sei.
Será que em vez de quatro horários para novelas, não vale a pena sacrificar a grana de uma delas e investir em roteiros menores, ousados e enxutos? Fazer experiências e testes, levantar uma nova cena de dramaturgia para TV?
Nunca teremos nosso “Lost”?
Por que não queremos? Não temos capacidade? Não temos dinheiro?
Até nisso “Lost” acertou. Parece que algumas perguntas nunca encontrarão uma resposta satisfatória.

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