Aconteceu em Abu Dhabi

A melhor coisa de “Sex and City 2” é que ele te dá vontade de rever “Aconteceu Naquela Noite”, filmaço do Frank Capra de 1934.

Porque de resto, as “novas aventuras” de Carrie e companhia são de uma chatice ímpar.

Confesso que fui ingênuo. Vi – sem empolgação – algumas temporadas da série, perdi o primeiro filme e fui atrás desse na esperança de pelo menos encontrar algo parecido com aquelas chamadas da “Sessão da Tarde”: “uma galerinha pirada vai para Abu Dhabi e se mete em muita confusão”.

Não esperava grande coisa, mas algumas fontes afirmaram que dessa vez o filme era até razoável… Sei, sei.

Depois, alguém me perguntou por que raios eu fui assistir ao “Sex and City 2”. Eu respondi: “Porque gosto de ver tudo, sacar o roteiro, e muita gente acha esses personagens os mais bem elaborados da dramaturgia televisiva e… Quer saber? Não sei porque fui assistir, não”.

Porque pensando exclusivamente na narrativa, o filme é de uma espantosa nulidade.

Estruturado em quatro atos, revela apenas falta de criatividade.

Na verdade, eis um filme que vale pelo humor involuntário, por aqueles micos constrangedores  (leiam excelente comentário de Paulo Sampaio no site do “Estadão”).

Os atos:

1 – Uma interminável sequência de apresentação num casamento gay que serve para resumir as histórias dos personagens. Mico: Liza Minelli dançando e cantando “Single Ladies”.

2 – Parece que a coisa vai começar… Rá, pegadinha do Malandro! Vários esquetes mostram em que ponto estamos na vida das coroas (repeteco de tudo o que já sabemos). Mico: Mr. Big tendo que demonstrar imensa insatisfação amorosa porque está impedido de colocar os pés no sofá.

3 – Opa, virada no roteiro. Parece que finalmente teremos história, trama, desenvolvimento de personagens, algumas cenas criativas… Afinal, todo mundo se manda para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes… Outra pegadinha, turma. Pois as senhoras ficam confinadas numa Nova York plantada no deserto, num hotel com todo o luxo, ostentação e alegrias da cidade grande. Continuamos com os desfiles de moda, piadinhas sobre pipis e dramas do tipo “será que estou sendo traída pela minha babá”?. Só que agora há mais sol e areia. Mico master: a garotada cantando no karaokê.

4 – Aeeee. Viva. Finalmente um pouco de ação. Mesmo que tosca. Por causa de um passaporte esquecido, todas têm que enfrentar as terríveis sanções do mundo muçulmano. Elas se perdem numa feira, ficam soltas entre os bárbaros e o roteiro precisa de 15 minutinhos para resolver os conflitos, fazer piadas e ainda dar um jeito de parecer uma moderna “screwball”. E tome piada sobre burca, Oriente Médio, muamba etc. Mico: intermináveis. Mas fico com aquela cena em que as mulheres tiram as burcas e…

Ao homenagear “Aconteceu Naquela Noite”, pelo menos num ponto “Sex and City 2” atinge seu objetivo: ele já nasce velho.

Mas se esquece que pra se tornar clássico, também precisaria de um texto afiado, de atores sublimes e de um ritmo sem barrigas.

Num artigo da “Vanity Fair” descobri que o gênero “três-garotas-na-cidade” existe no cinema desde 1925 com “Sally, Irene and Mary”. Seus grandes marcos talvez sejam “Quem É o Infiel” (1949) e ”Sob o Signo do Sexo” (1959).

O mérito de “Sex and City”, a série, foi adaptar a brincadeira “garotas bonitas, uma cidade e vários lobos maus” para a TV acrescentado uma donzela. Quatro é legal para um seriado.

Já no cinema… Que coisinha mais desengonçada.

O negócio é fazer como o Mr. Big e continuar vidrado no “Aconteceu Naquela Noite”.

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