Certos filmes carregam o selo “porcaria” no DNA. A gente sentiria o cheiro da bomba mesmo se morasse em Marte. “Encontro Explosivo” (“Knight and Day”), de James Mangold, é um desses casos. Tudo ali nos leva para a frase: “oba, vou economizar 20 paus e comprar esse negócio no pirata da esquina”.
Só que… Pô, sou a favor de ver certas cretinices nos cinemas apenas para honrar a folha corrida de alguém.
E o Tom Cruise tem uns créditos na praça. Além de colocar dinheiro em produções, resgatar estúdios da lama e pular no sofá da Oprah, o baixinho tem algumas boas atuações no currículo.
O cara tem estrela. É um desses que ainda faz a turma sair de casa pra pegar fila na hora de comprar pipoca.
Cinema também é isso, não? Sem astros do naipe do velho Tom para enriquecer as bilheterias, muita coisa boa não poderia ser feita em outros fronts.
“Encontro Explosivo” só vale como voto de confiança. Você não vai a uma festa para encontrar seus amigos e acaba topando com uns pentelhos de galocha? Não tem que enfrentar a confraternização de Natal da família para prestar sincera homenagem à vovó?
O novo Tom Cruise é aquele percalço, o preço a pagar por uma obra maior, vasta e com bons momentos. Não larguem o baixinho na mão.
Vejam as últimas pedreiras que ele fez:
– “Operação Valquíria” (2008) – Poxa, ele interpreta um fracassado daqueles… Ele simplesmente NÃO consegue matar o Hitler. Não dá pra considerar o sujeito um herói. Enquanto isso, vejam o Brad Pitt… Ele e seus bastardos inglórios simplesmente despedaçaram o nazismo. Pobre Tom.
– “Trovão Tropical” (2008) – Sua participação como obeso, barbudo e escroto produtor Les Grossman já é clássica. E não é todo sujeito de grana em Hollywood que achou a paródia tão engraçada assim, não.
– “Leões e Cordeiros” (2007) – Neste filme um tanto injustiçado, ele faz um senador ambicioso que não hesita em manipular jovens idealistas. Outro babaca total.
Agora, nada como fazer uns exercícios e bancar o herói com “Encontro Explosivo”, certo? Só pra desopilar o fígado.
A intenção de James Mangold (“Johnny e June”) foi apenas não atrapalhar as piadinhas entre Cruise e Cameron Diaz (parceira do astro). Aliás, se esforça tanto nessa intenção que quase não temos história…
A dupla tem que proteger uma bateria capaz de produzir energia infindável (é, eu sei, o MacGuffin aqui é horrível).
Tem também um cientista molecão (o bom Paul Dano), uma turma de bandidos espanhóis e perseguições em Boston, Nova York, Salzburg e Sevilha.
O filme é repleto de furos de geladeira (aquelas situações que você só percebe que não têm sentido depois, quando está em casa fazendo uma boquinha) e algumas boas sequências de ação (a melhor é a com os touros).
Na verdade, nada disso interessa muito. Tudo é construído para o velho Tom desfilar seus gracejos. Ele se joga de motos, pousa um avião num milharal, pilota lanchas, mora em uma ilha deserta, faz panquecas, drinques e salta em rios gelados.
É a personificação de um monstrengo que une o código genético de Ethan Hunt, James Bond e Austin Powers.
Parte do cinema mundial ainda sobrevive graças a esses caras. E vai saber… No meio da grana, às vezes eles conseguem erguer algumas coisas bacanas.
Para sintetizar, um diálogo que ouvi logo quando começou a sessão em que eu estava:
GAROTA: “Ei, é ação ou comédia?”
GAROTA 2: “E quem se importa? Tem o Tom Cruise”.

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