Os abutres de Billy Wilder e o caixão de Django

Olha aí que bom momento para ver “A Montanha dos Sete Abutres” (“The Big Carnival”, a.k.a. “Ace in the Hole”), baita espetáculo dirigido por Billy Wilder e lançado em 1951.

O gancho vem do norte do Chile, onde 33 mineiros foram soterrados e provavelmente vão viver pelos próximos três meses a 688 metros de profundidade num túnel de 2 km de extensão.

Água, comida e informações chegam por um duto de 6 cm de diâmetro.

Além do calor de 40˚C, umidade e escuridão constantes, eles enfrentam uma terrível falta do que fazer.

Periga o Boninho ter a brilhante idéia de transformar esse horror em reality show. Mas não pensemos no pior.

Há 60 anos, Billy Wilder já mostrava em “A Montanha…” o fascínio que essas tragédias exercem entre os jornalistas (e leitores, claro).

No filme, Kirk Douglas é Chuck Tatum, um repórter dos bons que enfrenta uma fase nada promissora. Decadente e em crise, ele parte para uma temporada num jornaleco mequetrefe em Albuquerque.

Ao ser enviado para cobrir uma bobagem exótica qualquer (acho que era uma corrida de cobras) num vilarejo, esse sujeito serendipitoso, com faro de Gay Talese, topa com uma boa história ainda na estrada.

Chuck descobre que Leo Minosa (Richard Benedict), um pequeno comerciante local, ficou preso num buraco enquanto escavava uma região em busca de artefatos indígenas.

Os olhos do jornalista pulam das órbitas feitos os de Roger Rabbit quando encontra sua amada Jéssica.

Eis a redenção batendo na porta. Ele enxerga a possibilidade não apenas de contar uma excelente história, mas a chance de ficar rico, se vingar, pegar a mulher do acidentado e outras motivações também não tão nobres.

Para tanto, o negócio é deixar o condenado preso na caverna pelo maior tempo possível.

Wilder fez “A Montanha…” logo depois de “O Crepúsculo dos Deuses” (“Sunset Boulevard”). Tá bom pra você? Só isso já explica por que o austríaco foi um gigante e é o único a freqüentar as listas de “top 10” em diversos gêneros.

Quer se antecipar e entender o que pode acontecer lá em San José? Vá atrás do Wilder.

Aliás, tente conferir também “Django” (idem, 1966), de Sérgio Corbucci.

Isso porque ao virar as folhas por esses dias, você fatalmente baterá o olho no massacre que aconteceu na fronteira mexicana com os EUA.

Setenta e dois imigrante foram assassinados por narcotraficantes, diz a polícia.

E o que acontece em “Django”, esse clássico do faroeste spaghetti, protagonizado por Franco Nero? Mexicanos, norte-americanos e justiceiros descendo o cacete uns nos outros justamente nessa região de limites.

Pensando bem, também seria fundamental mergulhar em “2666”, livro do Roberto Bolaño. Um dos trechos relata os crimes em Ciudad Juarez, encravada nessa loucura fronteiriça.

Mas esse é outro papo.

Por enquanto, é bom lembrar que vários Chucks já devem estar carregando seus caixões pelo Chile.

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