Assistindo aos extras da primeira temporada da série “Breaking Bad”, topei com o Vince Gilligan (criador, produtor, roteirista e diretor) afirmando que o legal de escrever para a TV (norte-americana, claro) é saber que se a sua idéia for aprovada, tudo pode sair rapidinho.
Um alento, portanto, para quem gosta de rabiscar seus projetos (no Brasil, nem queiram saber o quanto o processo é retardado).
Nos EUA, um roteiro de longa-metragem fica em média de dois a três anos no estaleiro antes de ser produzido (risque da lista o Woody Allen e o Clint Eastwood, obviamente).
Na TV, as páginas podem alçar vôo em poucos meses.
E mais: as séries estão ficando cada vez mais ousadas, criativas e complexas, chegando até o telespectador com grande parte do material original pensado pelo roteirista.
Competição, mão-de-obra fresquinha e aquela ajuda da turma do cinema estão produzindo uma nova Idade de Ouro da televisão gringa.
Parte do público já entendeu que ir ao cinema voltou a ser aquele passeio no parque de diversões da esquina.
Você come pipoca até amanteigar as tripas, fica tontinho com os óculos 3D e torce avidamente pelos mocinhos.
É bacana. Mas poucos brinquedos te surpreendem. E quando aparece uma barraquinha nova, eles te oferecem brindes antigos, como aquele ursinho rosa segurando um coração. Pfui.
Mas se o negócio for se envolver, ser pego de calças curtas e babar de excitação, a montanha-russa mais perigosa do mundo chega mesmo pelo cabo da TV.
Sitcom ou drama, os caras estão afiadíssimos e com uma diversidade espantosa (de gêneros e estilos).
Junto com o dinamismo dos produtores e roteiristas, a coisa toda funciona que é uma beleza.
Professor de química que vira traficante, publicitários dos anos 60, ilha maluca, vampiros, policiais, físicos nerds, gays casados, gays desquitados, boquetes, sexo, lésbicas, patricinhas, desgarrados, coral, roteiristas frustrados, Larry David… Há espaço para todas as boas idéias.
Não à toa duas das próximas grandes estréias não poderiam ser mais distintas (no tema). Só que próximas ao juntar talentos vindos do cinema e uma produção caprichada e rápida.
Primeiro, dia 19 de setembro, a HBO promove a estréia de “Boardwalk Empire”, criada por Terence Winter (“The Sopranos”).
Temos gângsteres, Lei Seca, EUA da primeira metade da século passado, roupa de época e aquela elegância.
A direção do piloto é de Martin Scorsese.
E em outubro a AMC faz a alegria dos tarados por sangue com a exibição de “The Walking Dead”, escrita, dirigida e produzida por Frank Darabont (“Um Sonho de Liberdade”), baseada nos quadrinhos de Robert Kirkman.
Temos zumbis, apocalipse e aquela boa quantidade de tripas e miolos.
Todas idéias colocadas no papel, bem pensadas e levadas ao ar com extrema agilidade e competência – o plano para fazer “The Walking Dead” foi anunciado há um ano.
Eu chutaria que estamos apenas no começo dessa grande fase da TV norte-americana.
E tempos atrás uns doidos diziam que ninguém queria saber de TV, que ela ia morrer, nunca mais teria audiência, etc. e tal. Sei, sei.
Os roteiristas e produtores norte-americanos são como esses zumbis mais espertinhos. Quando você menos espera, já te pegaram pela jugular.

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