Eleição: “Always Look on the Bright Side of Life”

Se os candidatos que aparecem no horário eleitoral fizessem seus discursos em inglês, quase seria possível acreditar que os Monty Python estivessem fazendo uns frilas e roteirizando as campanhas.

O humor involuntário é tão absurdo, que lembra os bons momentos do “Monty Python’s Flying Circus”, programa que estreava há mais de 40 anos na TV inglesa – e talvez o melhor show humorístico de todos os tempos.

Gargalhar com essas peças publicitárias é como rir de Buster Keaton e sua face eternamente séria.

Eles estão lá, fazendo e dizendo grandes barbaridades, mas permanecem impassíveis diante do caos.

De qualquer maneira, há um panfleto atrás de cada idiotice pronunciada por essas coisas que aparecem no programa eleitoral (dizem por aí nas redes sociais que o dos paulistas é um dos piores).

Apesar de todo o humor, a abordagem dos candidatos é conservadora e ignorante. Assim, longe de qualquer comparação com a genialidade dos grandes cômicos.

O próprio lema que provavelmente sairá como grande vencedor dessas eleições, o “pior que tá não fica”, do palhaço Tiririca, não deixa de ser uma promessa que pretende ser levada a sério.

Já a sofisticação do riso provocado por Michael Palin, Terry Gilliam, Graham Chapman (único morto, em 1989), Eric Idle, John Cleese e Terry Jones, os Python, vinha justamente da capacidade de jamais afirmar ou defender uma causa. Eles duvidavam de tudo, arrasavam toda e qualquer vaca sagrada, se alinhavam aos céticos.

Cada esquete parecia discordar do anterior. A anarquia bem elaborada, viajandona, mas rigorosa, não prometia nada. Nem mesmo a gargalhada. O negócio era o teste das fronteiras.

Eles implodiram o punchline (o arremate da piada) e levaram a idéia de fluxo de consciência para os esquetes.

Quando começaram a fazer sucesso, seus roteiros não precisavam mais de começo, meio ou fim. Nem de nenhum Ari Toledo ditando as regras. Tudo era possível, desde que inusitado, enérgico e divertido.

A partir de sucessos no rádio (como “The Goon Show”) e da TV (Dudley Moore, David Frost), eles criaram um novo jeito de escrever comédia.

Formados nas melhores universidades inglesas, Cambridge e Oxford (menos Gilliam, que é norte-americano), usavam filósofos, gays, mulher pelada, políticos, mineiros, qualquer um que pudesse render uma história engraçada.

Pensando bem, jamais esse discurso infantil e monocórdio de grande parte dos candidatos poderia lembrar as camadas de humor do Monty Python (vejam como o esquete mostrando o Silly Party x Sensible Party é revelador do estado das coisas).

Nesses momentos difíceis, em que o terror da mediocridade toma conta de todas as instâncias, em que nos vemos diante do abismo, o remédio é oferecido pelo próprio Python.

“A Vida de Brian” (1979), um dos longas-metragens do grupo, traz um final espantoso.

É uma crucificação. E para horror daqueles que têm fé, ao vislumbrar a morte e a injustiça, todos começam a cantar “Always Look on the Bright Side of Life”.

Que belo paradoxo. No filme, a heresia (fazer troça de um momento sagrado) é ao mesmo tempo cura. Pois a letra da música prega exatamente o perdão e uma passagem sem mágoas por esse vale de lágrimas.

Na edição portuguesa do livro “Os Monty Python”, Eric Idle (autor da música) explica que eles simplesmente não tinham um encerramento para o longa.

Então, resolveram terminar com uma canção. E Eric quis algo que pudesse ser assobiado por qualquer criança, com um clima Disney.

Olha aí um bom tema para a gente cantarolar no dia 3 de outubro.

Já que não adianta resmungar, vamos assobiar.


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