“Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” é mais um exemplo da capacidade que o diretor Oliver Stone tem de narrar e analisar a história contemporânea norte-americana.
Desde “Salvador – O Martírio de um Povo” (1986), seu primeiro longa-metragem de sucesso, há em sua carreira uma óbvia linha dramática que cobre todos os eventos importantes da política dos EUA dos anos 60 do século passado até hoje.
Podemos dividir sua filmografia em temas – ou seguindo uma ordem cronológica dos fatos relatados – e assim oferecer um bom cursinho sobre a recente história da América.
Encontramos entre seus assuntos o desbunde e a cultura jovem dos anos 60 (“The Doors”), a guerra do Vietnã por vários ângulos (“Platoon”, “Nascido em 4 de Julho”, “Entre o Céu e a Terra”), as idiossincrasias – e os traumas – de diversos presidentes (“JFK”, “Nixon” e “W.”), o atentado de 11 de setembro (“As Torres Gêmeas”) e, claro, a pujança e o caos financeiro (os dois “Wall Street”).
No documentário que Peter Bogdanovich fez sobre John Ford (“Directed by John Ford”), há uma esclarecedora sequência que mostra como o diretor de clássicos como “No Tempo das Diligências” (1939) e “Rastros de Ódio” (1956) conseguiu se debruçar sobre quase todos os momentos relevantes do país até seu derradeiro filme (“Sete Mulheres”, 1966).
Por aqui, seria como imaginar um cineasta que tivesse filmado enredos sobre o descobrimento do Brasil, a guerra com os holandeses, o ciclo do ouro, Tiradentes, o grito de independência, a proclamação da república, a guerra do Paraguai, Getúlio etc. Só parando em 1964.
Eis por que John Ford foi o maior cineasta da cultura norte-americana.
Assim, da década de 60 pra cá, se a gente pensar em alguém que sempre esteve atento na relação entre violência, estética e as grandes questões políticas dos EUA, Oliver Stone é o sujeito que ganha o troféu “John Ford pós-moderno”.
Já dá pra montar aquele cursinho sobre os ianques só exibindo Ford e Stone.
Claro que há muito mais frivolidade no cinema de Oliver Stone – o que faz dele um cineasta contemporâneo por excelência.
Seu último filme, “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme”, é mais uma bem estruturada peça política desse cineasta bolivariano.
Impressionantemente atual, o filme aborda a crise de 2008 e a nova bolha econômica (aquela que promete energia verde e limpa para salvar o planeta – se cuida Marina).
Com um elenco espetacular (até Shia LaBeouf está bem), reviravoltas convincentes e muito sarcasmo, Stone continua a narrar a aventuras do especulador Gordon Gekko (um envelhecido e sacana Michael Douglas).
O magnata das finanças ficou oito anos preso por fraude financeira.
Ao sair, parece se conformar em viver feito um dinossauro de Wall Street.
Suas armadilhas monetárias se tornaram obsoletas diante da voracidade dos novos tiranossauros da Bolsa de Valores.
Ele escreve um livro, pega metrô para economizar um trocados e tenta uma reconciliação com a filha (a intensa Carey Mulligan).
Estaríamos finalmente diante de um olhar compadecido em relação aos vilões do sistema e aos grandes atores políticos mundiais?
Genial diretor de atores (conseguiu deixar Hugo Chávez um ser adorável no documentário “Ao Sul da Fronteira”), Stone arrebenta o rosto de Michael Douglas, fazendo com que seu anti-herói carregue olheiras, sulcos e um eterno olhar de vigilância.
É impossível baixar a guarda no mundo financeiro dos Estados Unidos.
A quantidade de tomadas das ruas, prédios e parques de Nova York chama a atenção.
A cidade é frenética, com TVs ligadas em todos os pontos, transmitindo tensão. Seu skyline serve de base para os gráficos que indicam o sobe e desce da Bolsa. É um lugar construído em cima do dinheiro, da ganância. Tudo sempre está prestes a desmoronar.
Não há paz nem esconderijos em “Wall Street 2”.
Oliver Stone mais uma vez faz um belo filme ao oferecer seus palpites sociológicos.

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