O louco de Mostra

A Vanessa Barbara escreveu um respeitável perfil acadêmico sobre o “louco de palestra” na edição 49 da revista “Piauí”.

Você conhece o louco de palestra. Ou é um, vai saber. Segundo o estudo publicado, “é o sujeito que, durante uma conferência, levanta a mão para perguntar algo absolutamente aleatório. Ou para fazer uma observação longa e sem sentido sobre qualquer coisa que lhe venha à mente.”.

Há várias categorias de loucos de palestra (atenção, não confundir com o “louco do Palestra”, este apaixonado pelo Verdão).

A repórter ouviu diversos especialistas e também pessoas que foram vítimas desse tipo audacioso.

Escritores, professores, críticos, medalhões da USP, jornalistas, Laerte, várias personalidades dão seus depoimentos sobre o dia em que enfrentaram esse distinto indivíduo.

Nenhum louco de palestra apareceu nas páginas da publicação para oferecer sua versão dos fatos. Ainda bem. De qualquer maneira, acredito que a redação da “Piauí” está com as portas abertas para receber missivas do louco de seção de cartas.

Essa introdução quase tão longa quanto o preâmbulo de um louco de palestra é para sugerir uma reportagem capaz de dar conta de outro tipo destemido.

Como sabemos, todo mês de outubro a cidade de São Paulo é tomada pelo “louco de Mostra”. São os espectadores assíduos dos filmes da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Também dividido em categorias e surtos diferenciados, o louco de Mostra pode ser encontrado, obviamente, em qualquer sala que exiba os longas-metragens selecionados pelos organizadores Leon Cakoff e Renata Almeida.

Porém, se você quiser ter contato com esses seres, mas não pretende se arriscar num filme do Uzbequistão com legendas eletrônicas em português às 13h35 de uma segunda-feira, basta dar uma espiada no balcão de informações do evento, que fica estacionado no Conjunto Nacional, na av. Paulista.

Todos os dias, entre 10h e 21h, você encontrará um louco de Mostra brigando por um ingresso do mais novo filme vindo da Noruega (sim, além de ricos e bem de vida, eles fazem cinema).

Ou então poderá se divertir escutando a proeza de um sujeito que em dois dias de festival já viu 12 filmes (e só dormiu em dois).

E ainda anotar pérolas como: “Já baixei esse tailandês, mas quero ver em película pela quinta vez. Pô, os iranianos estão uma merda este ano hein!”.

O louco de Mostra nunca pergunta “tudo bem”. Ele vai logo disparando: “Vi 32 até agora, e você?”. Ele também é assertivo e não diz se uma obra é boa ou ruim, mas sim se é duas, quatro ou cinco estrelas.

E cuidado. Eles podem ser violentos. Principalmente se você discordar de uma “embasada opinião sobre os documentários da quinta geração de diretores chineses”.

Eles carregam bolsas enormes, onde escondem guarda-chuva (para correr de uma sala pra outra), lanches de queijo, blusas para os cinemas mais frios e tabelas que deixam o Excel no chinelo.

Louco de Mostra tem que carregar uma tabela elaborada especialmente por ele, capaz de cruzar horários, filmes, prêmios, temperatura, intervalo para alimentar o cachorro, enfim, tudo para proporcionar a melhor – e maior – experiência.

E os ingressos? Depois que retiram 132 entradas para os próximos quatro dias, eles fazem questão de desfilar aquela cartela cheia de horários como se fosse o Graal.

Já escreveram milhares de perfis sobre os freqüentadores da Mostra nessas 34 edições.

Mas acredito que chegou a hora do louco de Mostra ganhar um alentado estudo profissional e acadêmico.

Enfim, fica a dica.

Porque daqui a pouco tem sessão do novo Kiarostami e eu não quero perder por nada. Você tem idéia do que eu enfrentei pra conseguir esse ingresso?

4 comentários em “O louco de Mostra

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  1. Ótimo, André! Fora aqueles que compram entradas para um filme atrás do outro no mesmo lugar e, como não precisam trocar de sala, se sentem o máximo porque não pegaram a fila para o segundo filme. Aí você, que sim fez a fila, entra na sala e os caras estão sentados (nos melhores lugares) olhando para trás, vendo a turma entrar, enquanto pula um balãozinho da cabeça deles dizendo “se fo**ram, se fo**ram”…

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