Harry Potter, Freud e Laerte

UMA CENA

Há um belo momento em Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1, de David Yates. É aquele em que uma animação narra O Conto dos Três Irmãos.

Os elementos macabros, mas sedutores, da pequena história lembram as figuras fantasmagóricas de Tim Burton.

O conto da família perseguida pela Morte serve lindamente como fábula para a vivência de Potter, Hermione e Rony no sétimo filme da saga.

Afinal, tanto no conto quanto no filme, a vida não passa de um jogo contra a morte. Ganha aquele que conseguir enganar mais vezes – e com mais eficiência – a terrível dona Ceifadeira.

Harry Potter se firma como um interessante espetáculo. Não apenas é um fenômeno de mídia, mas prega uma espécie de milagrosa união entre magia e mundo real (única maneira de vencer a morte).

O papel dos livros também ganha imenso destaque. O mais forte ditador sempre corre perigo diante de uma nação de leitores.

Assim, Harry agora é um revolucionário, um rebelde, inclusive invadindo a sede do governo e promovendo sabotagens.

Sua luta é pelo fim da discriminação (e para salvar a própria pele, claro).

Sua bandeira mostra que trouxas e bruxos podem viver em harmonia.

Todo o Relíquias da Morte – Parte 1 parece ser sobre preconceito, perseguição e conhecimento.

Aparece em boa hora.

Tanto lá como cá, são tempos difíceis para se viver.

UMA SÉRIE

Muito se tem falado de Afinal, o que Querem as Mulheres?, nova série dirigida e pensada por Luiz Fernando Carvalho, atualmente em cartaz às quintas na Rede Globo.

As reportagens fazem questão de frisar como o diretor é uma espécie de bruxo, mago, o único detentor de um imaginário selo de qualidade na TV nacional.

Um autor, enfim. Enquanto todos os outros são trouxas (na acepção “harry portiana”) que buscam apenas audiência (e jamais qualidade).

Magia contra as limitações da realidade.

Por um lado, sempre é bom superestimar um trabalho competente e um tanto mais ousado vindo de uma TV brasileira que parece rolar ladeira abaixo em muitos aspectos.

Porém, quando muito se comenta a genialidade do diretor e a categoria dos atores/autores, corre-se o risco de subestimar alguns elementos da narrativa.

E em Afinal, o que Querem as Mulheres?, o trabalho de fotografia de Adrian Teijido (parceiro habitual do diretor) se fortifica como uma das melhores coisas da TV atualmente (cabo e amazon.com inclusos).

Um desbunde psicodélico, agradabilíssimo, capaz de segurar qualquer onda, mas meio jogado num segundo plano (sem trocadilho) pela imprensa. Merecia estar no lide.

Sempre pertinente, nada arrogante e nunca chata, a fotografia de Teijido é a alma da série.

Se o doutor Freud não sabe o que as mulheres querem, Teijido parece ter sacado: elas querem luz.

UM LIVRO

Muchacha, do Laerte, é um “graphic-folhetim” divertidíssimo e que aborda com originalidade (redundante, mas que palavra buscar para definir o autor?) os bastidores da TV.

História de vingança embalada por rumbas e travestismo, Laerte traz flashbacks, surrealismo e uma impressionante gama de estruturas narrativas.

Érico Assis batucou pertinente texto no blog da editora Companhia das Letras alertando que chegou a hora de discutir a obra do autor (e menos a sua figura pública).

É isso aí. Hoje, Laerte está na cabeceira da mesa que reúne os bruxos das narrativas visuais.

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