Patti Smith e o brilho de uma paixão

POESIA 1 – CINEMA

Brilho de Uma Paixão, de Jane Campion, parece ser feito de pedaços. No fim, pouco importa o enredo do amor entre a estilista Fanny Brawne (Abbie Cornish, uma Keira Knightley com carnes) e o poeta romântico John Keats (Ben Whishaw).

O que interessa para Campion são os momentos de beleza que só a poesia (visual ou das palavras) pode produzir.

Por isso, temos a impressão de ver fragmentos (e todos muito fortes). Há pouco espaço para a prosa, o blábláblá romântico, histórias secundárias ou sacadinhas no roteiro.

Eis um grande filme que se impõe pelas imagens, como a colorida sequência com borboletas voando pelo quarto.

Fanny protagoniza todo o esplendor imagético de um amor (não à toa ela costura e lida com cores e babados, com o exterior).

Keats fica com a palavra. Mais soturno, perturbado, fadado ao fracasso, é ele quem nos mostra a potência do fazer poético, da linguagem (do interior).

Cinema e literatura se unem para tentar desvendar o que acontece na alma desses amantes desafortunados.

São situações iluminadas, sublimes, que reafirmam a arte como lugar possível para amores impossíveis.

POESIA 2 – LITERATURA

Só Garotos, de Patti Smith, também traz poesia, amor e imagens poderosas.

O livro conta a história da união entre a performer e poeta Patti Smith e o fotógrafo Robert Mappethorpe.

União que é saudada como uma dádiva, como arte, como doação.

Como o filme de Jane Campion, o texto de Smith é despedaçado, cheio de pequenas anedotas e momentos poéticos.

Não é uma história lacrimosa amarradinha como essas Sabrinas da vida.

Mas um grande “eu te amo” para Mapplethorpe.

Todo o tempo Smith reafirma o poder da poesia, da fotografia (imagens), da música, da arte sobre a vida.

Mais uma vez é na arte que tudo se realiza plenamente e que a paixão pode existir para sempre.

Keats e Mapplethorpe morreram rasgados por doenças malditas em seus séculos.

Keats foi levado pela tuberculose, fatal no século 19; Mapplethorpe se retirou por causa da Aids.

Mas, para lembrar um poema, Patti e Campion afirmam com suas obras que esses artistas produziram coisas belas, e uma coisa bela é alegria para sempre, seu encanto sempre aumenta e não morre jamais.

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