Atraso nas obras dos estádios, problemas na infra-estrutura dos aeroportos, o filme Rio… Todos os dias nos deparamos com um fato que traz desalento quando o assunto é Copa do Mundo de Futebol e Olimpíada no Brasil. Tanto na economia quanto no legado cultural, caminhamos para um enorme desperdício. O mais nacionalista poeta naïf deve ficar desanimado diante do fim inevitável dessas farsas: shows de abertura com Ivete Sangalo e Carlinhos Brown.
Uma das poucas esperanças de reflexão em larga escala sobre certa complexidade do brasileiro estava depositada no longa de animação Rio. Ao mostrar as aventuras da arara-azul Blu em terras fluminenses, o diretor Carlos Saldanha poderia contrabandear para Hollywood (para o mundo, portanto) uma discussão sobre nosso atual estado de espírito – aliás, bem confuso.
Sociologia travestida de filme para crianças é legal pacas. A Pixar não fez de Toy Story 3 um bonito ensaio sobre o envelhecimento? E mesmo assim a gente podia comprar o Mc Lanche Feliz e ganhar as miniaturas dos nossos personagens favoritos. Chamem isso de camadas de leitura, se quiserem. Eu rotulo como algo que mistura esperteza e genialidade.
Rio tem um início arrasador. Promete uma inesgotável riqueza de cores, músicas clássicas bombando ritmo e uma intrincada história de superação. Um órfão, uma tragédia, o caos patrocinado pela ruptura brutal com o meio-ambiente… As primeiras imagens nos remetem para as melhores coisas de Walt Disney. Um Bambi de asas, talvez.
No atual mundo do efêmero, não é de se espantar que toda essa profusão de expectativas positivas dure apenas alguns minutos. Rio se revela absolutamente convencional (até mais fraco que isto) na sua estrutura e significado. Um fio condutor dos mais chatinhos faz com que Blu e sua futura esposa passeiem por pontos turísticos da capital carioca enquanto escapam de contrabandistas de animais. Não há surpresas, reviravoltas ou grandes emoções. Acima de tudo: não há frescor no olhar. Rio é o óbvio ululante. Será apenas isso mesmo?
Diante de um total desprezo pela narrativa (evidenciado com a obrigatória passagem canhestra pelo Sambódromo), é nítida a opção por uma forma admirável. Os vôos pela cidade, a maneira como a luz brasileira explode na tela e o uso das cores das alegorias das aves e passistas são momentos de uma estética sublime, beirando o êxtase visual.
Enquanto isso, os personagens secundários são planos e emocionalmente parecidos (tanto que o guarda do centro de pesquisas é pateticamente afeminado como um dos ajudantes do vilão). Todos querem sambar, viver a vida, voar em liberdade etc. Não há conflito. Mesmo quando usa outros animais, a idéia é a mais banal possível – macaquinhos que são ladrões, por exemplo. Resta apenas uma boa surpresa: o cachorro Luiz, um babão que luta contra seus instintos (apesar de ser a réplica canina do guarda e do comparsa do traficante, pois também tem trejeitos de baiana).
Na onda sonora, além de sempre ser prazeroso ouvir Benjor, a única canção surpreendente é de… Lionel Ritchie. Os acordes de Carlinhos Brown também investem nos batuques de sempre e passam tão rápidos quanto uma escola de samba com dois integrantes.
Claro que Rio diverte o suficiente (porque a geografia da cidade de fato é coisa de cinema). Mas a opção pelo pot-pourri de belas imagens e por um história frágil (e, às vezes, estúpida) revela muito sobre a competência da equipe da… Pixar. E que talvez os brasileiros ainda estejam fadados a dar para o mundo essa alegria, essa despreocupação, esses personagens que querem apenas sambar. Talvez não seja pouca coisa, afinal.
Rio é um cartão-postal sem nenhuma mensagem escrita.
GLOBO MULHER
Só após ler crítica de Mauricio Stycer na Folha de S.Paulo é que me dei conta: todas as novas séries da Globo são direcionadas para a mulher – ou, pelo menos, têm personagens femininas como protagonistas.
Divã, Lara com Z, Batendo Ponto, Tapas e Beijos e Macho Man mostram mulheres superando adversidades e, principalmente, correndo atrás de homens e casamento.
Macho Man seria a única masculina, pois traz Jorge Fernando no papel principal. Mas ele é um cabeleireiro gay que, ao levar uma sapatada, reencontra a macheza perdida. A história gira em torno de um universo desconhecido dos garotos (o salão de beleza) e de como as mulheres se comportam diante desse “novo heterossexual”. Tudo bem feminino, portanto.
É uma escolha. Parece que na área da dramaturgia, a direção da Globo deixou os homens protagonizando apenas o futebol.

Oi, André! Nao vi o filme ainda, mas achei “coincidência” demais ter sido lancado justo agora com Copa, olimpiadas, etc etc. Acho que a intencao nao era contar uma história mas sim promover a cidade e, portanto, o Brasil. E isso, pelo que vc escreveu, eles conseguiram.
Beijo!
Verdade, Nadja. A bilheteria internacional do filme mostra que o Rio de Janeiro dos gringos continua agradando. E se o negócio foi aproveitar apenas as aparências da zona sul carioca, tá tudo certo com Rio, o filme. Aliás, o longa é um genial comercial da cidade, bem melhor que os oficiais que circulam por aí. Beijos.
MEU FILHINHO DE 2 ANOS ADRYAN ANTHONY VIBRA E SAMBAM JUNTO COM ESSE TRELLER E O DE 7 ANOS TAMBEM .ADORAM!!!!!!!O BLU