Blu é o caralho, o Brasil agora é Toretto

Ufa. Achei que Hollywood ainda não teria sacado que o Brasil mudou após 16 anos de era FHC-Lula. O sucesso da animação Rio, de Carlos Saldanha, passou a impressão que os gringos estavam eternamente impregnados com as imagens daquele país tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza, com coqueiros que dão cocos etc. A aventura da arara-azul Blu soa anacrônica, pois parece acontecer nos anos dourados de JK, com toda aquela folia nas ruas, ladrões ingênuos e macaquinhos divertidos afanando carteiras sob o olhar conivente do Cristo Redentor.

Então a nação pungente, globalizada, capaz de xavecar os grandes líderes para garantir a bunda no Conselho de Segurança da ONU, só existe nos noticiários? Porque cada canto do planeta mudou de papel nas últimas décadas. A geopolítica hoje é mais mutante que a Mística. Mesmo assim, o Brasil ainda era tratado como um lugarzinho especial, escondido, ideal para umas férias forçadas – estilo Ronald Biggs. Tudo tão século passado… A barbárie da civilização não tinha chegado nas praias desse paraíso insondável.

Certo que aquele episódio de Os Simpsons já tinha alertado: o Brasil tá na área e é tão corrupto, fedorento e engraçado quanto o resto do mundo. Só que agora finalmente temos um filme norte-americano para chamar de nosso: Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio; ou poderíamos intitular como O Brasil de FHC-Lula – Parte 1.

Como diz Dominic Toretto (Vin Diesel) quando se vê encurralado pelos soldados dos EUA: “Isto é o Rio!”. E o povão miscigenado mostra as armas e expulsa os gringos. Yes, nós temos pistolas. Caras, não se metam com a galera brazuca!

Na nova aventura dos carros envenenados, o Rio de Janeiro não é aquela cidade romântica do Blu (que certamente já teria levado diversos pipocos se estivesse na frente da turma do Toretto). Mas sim um centro superpopulado no topo da cadeia alimentar, onde rola grana, corrupção e mulatas de calcinha embalando pó. Neguinho não vem mais aqui para fugir da CIA, não. Ele vem para roubar, matar e sacanear os agentes da lei. Se quiser vacaciones, o bandido se manda para o Japão, Rússia ou Alemanha. O mundo mudou e a gangue do Vin Diesel sabe disso.

O diretor Justin Lin (que também comandou alguns episódios da série mais engraçada da TV, Community) é tão esperto e sabe tudo de Brasil que até colocou algo parecido com um trem-bala em cena. Parece encomenda da Dilma. Uma baita sequência de ação em vagões que rasgam o interior fluminense em grande velocidade. Estamos chegando lá. Se a ficção antecipa a realidade, logo mais teremos trens para roubar. Força BNDES. O duro será construir aqueles cânions na Serra das Araras.

Velozes e Furiosos 5 é um filmaço. Faz seus atores cuspirem os diálogos como se fossem azedos cajus; constrói um fiapo de história com um vilão português que ensina como a América foi colonizada; tem frases com sotaque tipo “peguem eles, caralho!”; perseguições alucinantes em trechos de uma suposta Rio-Niterói; correria em becos de favelas; carros explodindo na Cinelândia; roubo de uma caixa-forte guardada num batalhão da polícia carioca (e as viaturas com motores de avião?) etc. Sério, o que mais a gente pode querer? Finalmente somos Nova York, San Francisco, Paris, Boston, Tóquio.

Com Fast Five, Hollywood entendeu que merecemos nosso lugarzinho ao Sol do cenário de ação global. Temos bandidos, dólares (poderiam ter mostrado a força do real também, mas ok), munição e sacanagens mil. Claro, e continuamos com a praia, caipirinha e policiais gostosas. Quer mais o quê?

Blu é o caralho, o Brasil agora é Toretto.

UM TRAILER

Gus Van Sant na área. Ele exibiu seu novo longa-metragem, Restless, na mostra Un Certain Regard, no festival de Cannes. Parece um Paranoid Park fofo. Jovens crescendo numa época bem esquisita para se viver. Vale apostar que vem aí mais um filmão de um dos melhores diretores em atividade hoje.

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