“Transformers 4 – O Musical”

Para a molecada que freqüenta as salas de cinema, a maior tragédia dessas férias não é o fim da saga Harry Potter, mas a constatação de que Michael Bay fez um filme melhor do que a Pixar.

Carros, da Disney/Pixar, e Transformers – O Lado Oculto da Lua, de Bay, provam que automóveis falantes são chatos pra diabo e não conseguem – ainda – protagonizar uma história.

Essas peças metálicas se prestam a virar máquinas assassinas convincentes (Christine), sonho de consumo de empresários idealistas (Tucker) ou objetos de estranhos prazeres (Crash, ainda a obra-prima sobre o fetiche por essas carroças automatizadas). Mas conduzir uma trama, chorar, se relacionar ou até mesmo amar… Aí o filme enguiça.

Quem sabe, num futuro próximo, pedaços de ferragens ganhem nossa alma e virem bons personagens. Pelo menos o genial cientista Miguel Nicolelis está roteirizando um sonho nesse sentido (de dar vida a coisas mortas). Enquanto continuamos aprisionados em nosso corpo, o melhor é acompanhar uma narrativa com algo de humano.

Transformers 3, essa bomba confusa e muitas vezes inebriante, tem uma grande vantagem sobre Carros: no filme de Michael Bay, há gente rindo, sofrendo um tanto (ou tentando, pelo menos) e, principalmente, fazendo piadinhas; Frances McDormand, John Malkovich e John Turturro conseguem dar dignidade até a um pedaço de estrume. É a prova de que grandes atores seguram qualquer onda. Tirando Mate, o guincho caipira da Pixar, o elenco de Carros não chega na lataria de uma cena com Malkovich.

Mas esse papo de comparar abacaxi com melão não deve ser a brincadeira principal aqui. O que vale mesmo dizer é que Transformers 3 poderia ser muito bom se fosse um musical. Sendo mais preciso: toda a interminável sequência de destruição de Chicago tem momentos de um memorável balé, de uma coreografia de Busby Berkeley.

Em 3D, plenamente justificado, sobrevoamos a cidade como nunca antes o cinema tinha conseguido mostrar (e o que dizer daquele início no espaço?). Os pequenos homens embalados pelo vento e contornando carros voadores formam figuras psicodélicas e agradáveis.

Visualmente, a experiência é das mais interessantes (e até mesmo o som dos metais nos deixa anestesiados), com alguns momentos de grande harmonia e criatividade.

Michael Bay não carrega essa burrice toda, não. Aliás, nas suas entrevistas, ele faz questão de dizer que é um xucro quando se trata de lidar com uma história, mas um puro-sangue na hora de resolver pepinos – o cara sabe como captar certas imagens.

Pena que todo esse envolvimento visual não se reflita nas nossas emoções. Sem personagem para torcer, sem nenhum risco para correr, ficamos ali meio jogados, ao sabor do vento, feito os paraquedistas do governo que tentam pegar os malvados carrões.

Por isso pensei em música. Não é uma boa forma de algo nos capturar? Imaginem se em vez de falar aqueles clichês de sempre, a moçada começasse a cantar? Um Glee patrocinado pela GM.

Fica a dica, Michael Bay. Já que os roteiristas se embananam na hora de nos prender com uma história, por que não contratar músicos e letristas? Duas passadas de olho em qualquer American Idol da vida e a gente vê que os norte-americanos manjam tudo de palco. Melhor ainda, basta recorrer a standards da música.

Robôs cantando Cole Porter, que tal? Shia LaBeouf num dueto com Bumblebee, os dois cuspindo baixinho, feito João Gilberto, Garota de Ipanema para emocionar a gostosinha Rosie Huntington-Whiteley (tão fetichizada quanto os carros)? Autobots e Decepticons lutando enquanto os motores roncam um Gershwin?

Aposto que ninguém iria reclamar que o filme não teria história. Quem sabe um Transformers 4 – O Musical seja a salvação – para os críticos, pelo menos – da carreira de Michael Bay?

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