Resenha do livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais, publicada na edição 61 (Chico Buarque na capa) da revista Rolling Stone.
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A figura do jornalista Fernando Morais, com sua barba espessa e um charuto sempre aceso na mão, causa arrepios entre aqueles que se dedicam a enterrar o comunismo. Alinhado com pensamentos da esquerda e autor tanto de biografias (Olga, Chatô, O Mago) como de livros de reportagem (Corações Sujos), ele virou best-seller na década de 70, principalmente quando publicou A Ilha, em que relatava como era viver na Cuba idealizada por Fidel Castro e seus revolucionários.
Portanto, soa natural observar que muitos não acreditem na imparcialidade deste livro jornalístico que traz a história de 14 agentes – 12 homens e duas mulheres – infiltrados nos Estados Unidos pelo governo cubano na década de 90. Esses espiões formavam a Rede Vespa, responsável por monitorar e sabotar diversas organizações anticastristas que tinham sede em Miami.
Com o colapso da ex-União Soviética, Cuba teve que se abrir para o turismo e assim tentar cobrir o rombo causado pelo fim da ajuda dos falidos russos. Foi a senha para que exilados cubanos na Flórida e outros inimigos da ilha caribenha aterrorizassem ainda mais Havana e arredores, colocando bombas em hotéis, disparando rajadas de metralhadoras em praias e jogando panfletos pedindo para a população se rebelar contra o governo.
Morais juntou fotos, documentos e fez diversas entrevistas para montar um painel das relações (ou a falta delas) diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos. Além de ser uma boa incursão nas redes de espionagem dos dois países, o livro consegue com competência contar o drama da diáspora cubana e o cotidiano violento e mafioso de alguns anticastristas.
Por fim, mesmo elegendo fiéis defensores de Fidel como seus mocinhos, Morais também abre espaço para muitos personagens picharem o comandante barbudo.
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Em tempo: para quem quiser se aprofundar num eficiente relato da relação entre Fidel Castro e a imprensa – muito antes de Fidel ser O Fidel – há um livro fundamental na praça: O Homem que Inventou Fidel, de Anthony DePalma, espécie de biografia dupla (do Comandante e do jornalista Herbert L. Matthews).

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