Na série da HBO Bored to Death, George (Ted Danson) é editor de uma revista de comportamento que fuma um baseado atrás do outro e se considera um viciado em marijuana. Ele atua como pai postiço de Jonathan Ames (Jason Schwartzman), um escritor que pena para concluir seu segundo livro, dá expediente como detetive particular nas muitas horas vagas e curte usar um moderno vaporizador quando consome sua ervinha. O melhor amigo de Ames, Ray (Zach Galifianakis), acredita que tem as melhores idéias quando está chapado de maconha e fica famoso no universo de HQs ao desenhar um super-herói que usa o pênis como arma fatal.
Jonathan Ames, o real, criador de Bored to Death, também aparece em alguns episódios – pelado, inclusive. Seu personagem não traga drogas alucinógenas, mas o olhar de Ames durante entrevistas nos extras dos DVDs poderiam servir como prova num tribunal menos simpático ao uso de entorpecentes.
No filme Your Highness, dirigido por David Gordon Green, Fabious (James Franco) vê seu reino – durante, ao que parece, algum ponto da Idade Média – correr perigo por causa de um misterioso demônio. Sua futura esposa (Zooey Deschanel) é raptada pela tal figura diabólica e Fabious parte numa grande aventura para matar dois coelhos: libertar a amada e eliminar o mal. Antes de enfrentar tais perigos, o príncipe se encontra com uma criatura sábia, que não só oferece ensinamentos, como também promove uma sessão de fumo e pede para ser masturbado.
Thadeous (Danny McBride) está revoltado porque todas as loas são sempre para o irmão mais velho, Fabious. Jogado para missões pouco importantes, como selar a paz com um povo de anões, Thadeous se sente um bastardo. Para aliviar a tensão, ele dá uns tapas numa erva enquanto brinca com ovelhas.
David Gordon Green também realizou Pineapple Express, que conta a história de uma maconha super poderosa que provoca uma hilária turbulência na vida de alguns de seus consumidores.
Tanto Bored to Death quanto Your Highness entram na categoria de produtos que cultivam a maconha como droga inspiradora de graça, arte e confusão.
Há cartazes da série de Jonathan Ames espalhados por toda Times Square, em Nova Iorque, deixando o produto da HBO visível para todo o mundo.
James Franco não só leva seu ar chapado para blockbusters do naipe de Planeta dos Macacos, como já mostrou seus sorriso “legalize” durante quase quatro horas ao apresentar o Oscar deste ano.
Alguém aí está pensando em Weeds, a série da dona-de-casa que faz uma graninha vendendo bagulho?
A dramaturgia norte-americana desmistificou faz tempo o consumo da maconha. Seja para fins medicinais ou por pura diversão, “fumar um” é ato corriqueiro em qualquer filme, produto televisivo, peças de teatro etc.
Personagens maconheiros não são apenas extraterrestres (apesar que Paul é um) ou garotões sarados que a qualquer momento podem ser espancados pelo Bope. Não existe somente um tipo característico.
Essa diversidade de personalidades que gostam de fumaça nos roteiros promove uma intensa e benéfica discussão sobre o uso de drogas.
E no Brasil? Graças a um pequeno milagre, ainda temos um ex-presidente que joga sal na pimenta do debate sobre a descriminalização da maconha. Ótimo.
Mas, em geral, a postura – tanto da arte quanto do público – é a do “prendam esses maconheiros malditos!”.
Acabamos (ainda não terminou, na verdade) de ver uma furiosa reação em cima dos três estudantes da USP que estavam curtindo seu fuminho.
A ignorância sobre o assunto é tamanha, que em pouco tempo as redes sociais estavam entupidas de gente reclamando da pauta estudantil dos uspianos em greve. Segundo os desinformados (a maioria), a turma queria legalizar a maconha no campus. Oi? Onde viram isto? Não, pessoal, a pauta não é liberar a droga na USP. Nunca foi.
Ao pegar a palavra “maconha” e colocá-la no centro do debate, as outras questões urgentes – eleições para reitor, PM fora da USP etc. – viraram fumaça por algum tempo. Mais um sinal do tabu e do preconceito com o tema.
O país ganharia se o cinema nacional e as novelas começassem a explorar o filão, mostrando a maconha não apenas como a “droga maldita que sustenta o tráfico”, mas também como o cigarrinho irreverente consumido abertamente nas ruas de qualquer cidade e nos encontros de qualquer grupo (pais, filhos, empregados etc.).
Assim como o trabalhador, a nova classe média, as prostitutas, os travestis, o beijo gay etc. merecem ser inseridos em projetos de dramaturgia, vale a pena colocar também mais maconha em cena.
A próxima novela das oito poderia ter um núcleo de maconheiros, mas desses que tratam o cigarro como coisa normal, que dão seus pegas como se estivessem bebendo água, que provocam riso e alívio cômico.
Pô, seria da hora.

parabéns pelo texto 🙂 ótimas referências