Em Tudo Pelo Poder (The Ides of March), de George Clooney, o pré-candidato democrata à presidência Mike Morris (Clooney) precisa decidir se demite ou não seu principal assessor, Paul Zara (Philip Seymour Hoffman).
O político vai até uma barbearia onde o poderoso empregado apara o cabelo. Os dois entram num carro e começam a conversar. A câmera permanece fora do veículo – que está ligado. Não sabemos o que está acontecendo. Será que Morris cedeu a uma chantagem e agora vai eliminar Zara da campanha?
São alguns segundos de angústia. Não há música. Ficamos apenas com o barulho do motor. Só vamos desconfiar do resultado da conversa quando o assessor abre a porta e sai do carro. Num roteiro (de Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon) cheio de bons diálogos, surpresas e reviravoltas, certamente teríamos grandes frases nesse encontro entre o candidato traído e seu confidente. Porém, o efeito de nos esconder essa ação e apostar no suspense se mostra bem mais eficaz.
Não revelar pode ser uma grande jogada.
Até porque os melhores diálogos do filme (e talvez a melhor cena) já tinham acontecido instantes antes. Seria muito difícil superar o impacto das frases entre Zara e Stephen Meyers (Ryan Goslin) num quarto de hotel, quando o primeiro dá uma lição de lealdade ao jovem pupilo.
Portanto, o papo invisível dentro do veículo é um lance que nos deixa apreensivos, em dúvida, e totalmente imersos no filme – e não compete com as brilhantes falas anteriores.
Em Compramos um Zoológico (We Bought a Zoo), de Cameron Crowe, tudo é explícito. Os personagens choram, gritam, esperneiam na nossa frente todo o tempo – sempre com uma trilha sonora em alto volume e cheia de orquestrações e pompa.
Não há espaço para qualquer surpresa ou enigmas. Porém, alguma coisa funciona plenamente. O filme é um daqueles fenômenos: fraco, mas emocionante pacas.
Você sai do cinema dizendo, enquanto enxuga as lágrimas, que acabou de assistir a uma porcaria. Isso porque Crowe sabe trabalhar o óbvio.
Quase todas as cenas importantes têm o mesmo batimento. Começa com alguma dúvida, há certa hesitação no personagem, a música aparece, algo acontece para determinar uma resolução, a música aumenta e vamos para um desfecho dramático – um animal que morre, uma criança que chora, uma saudade que não passa etc.
Não existe um grande momento, porque Crowe espalha por todo o filme diversas cenas fortes, mantendo de forma invejável um ritmo emocionante. Um suspiro ganha ares de doença incurável; ver fotos da amada que acabou de falecer é como assistir ao fim do mundo.
Compramos um Zoológico é um melodrama, explícito, sem sutilezas, mas eficaz. Por quê? O casting infantil é ótimo (difícil explicar o encantamento que sentimos pela garota Rosie Mee, interpretada por Maggie Elizabeth Jones), os adultos são caricaturas precisas e divertidas, algumas canções realmente brilham, os bichos aparecem com graça e, claro, o roteiro (de Aline Brosh McKenna e Cameron Crowe) manda choro atrás de choro.
Essa repetição de momentos lacrimosos bate de frente com os cuidados de Tudo Pelo Poder, em que a surpresa vale mais que a emoção.
O que nos faz pensar: há um jeito certo de mostrar determinada ação? Não. Mas existe, sem dúvida, um jeito que funciona e outro que parece manco, que trai a expectativa do público e o próprio filme.
A maioria dos longas consegue estabelecer esse jogo. Em alguns minutos nos convencem a acompanhar determinada história por algumas horas. Bons ou ruins, eles são certeiros num quesito: prendem a nossa atenção pela maneira de narrar.
Em Tudo Pelo Poder nos prometem os bastidores da política, com todo aquele jogo sujo e surpreendente que imaginamos ao ler reportagens e ver o noticiário na TV. E logo na primeira cena Clooney deixa claro que é esse esquema de aparências que vamos observar. Não devemos acreditar na imagem. Vamos ter que duvidar de cada cena.
Já em Compramos um Zoológico, uma narração em off nos explica que vamos acompanhar a maior aventura de Benjamim Mee. E absolutamente tudo será mostrado e revelado. Sem segredos e com bastante sentimentalismo. Crowe nos entrega exatamente isto.
Portanto, um filme pode ser melhor que o outro. Mas não necessariamente um será mais honesto que o outro.
Por isso que mesmo achando certos filmes ruins, a gente vai até o final e se emociona ou ri. É porque a regra do jogo não foi quebrada.
Estabelecer essa meta e deixar claro como o filme será conduzido são bons motivos para ganhar o espectador. O problema é que tem todo o resto.

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