Débora Falabella, Jennifer Lawrence e Charlize Theron formam a santíssima trindade das garotas malvadas dessa temporada. Elas surgem não exatamente como lucíferes desvairados. Estão mais para anjos vingadores com certos preceitos morais.
Elas cometem – segundo alguma ética – atos impuros e condenáveis, mas se redimem de seus próprios defeitos ao viverem um calvário numa sociedade ainda mais frágil e indefensável.
Estamos diante de uma fase bem interessante das personagens femininas: elas querem – e podem – se vingar. Não por acaso logo mais a Viúva Negra de Scarlett Johansson vai dar um trabalho danado em Os Vingadores.
Também atingem um público que vai dos tweens até as novas balzaquianas (as meninas na faixa dos quarentinha). Sei não, mas logo a Fernanda Montenegro também estará dando seus pipocos por aí.
Contrariando o funk, elas estão controladas – e calculistas.
Débora Falabella, a sofrida Rita/Nina, parece que vai avançar todos os sinais em Avenida Brasil, a novelaça de João Emanuel Carneiro. Como escreveu o colunista Melchiades Filho na Folha de S.Paulo, ela será um duro teste para o público de folhetim televisivo. É uma mocinha que anda sobre duas rodas, se veste de preto, não tem um corpinho efusivo e ainda faz maldades.
Como Katniss Everdeen, Jennifer Lawrence também aposta nas vestes negras e fica longe das caras e bocas das meninas mais saidinhas. Ela gosta mesmo é de atirar com seu arco e flecha. Em Jogos Vorazes, a atual brincadeira favorita da garotada, ela mata amiguinhos. Às vezes sem querer, mas sempre por um motivo nobre: a luta pela sobrevivência.
Charlize Theron (Mavis Gray), até por ser mais velha, representa a mais madura e complexa do grupo. Fazendo em Jovens Adultos uma ghost writer de livros para o público infanto-juvenil (que é o estilão de Jogos Vorazes, por sinal), ela acha que é um fracasso. Para conquistar um lugar ao sol, tenta estragar a pacata vida do ex-namorado.
Além da beleza, elas têm um universo em comum: o de um mundo infestado de gente um tanto estúpida (em mais de um sentido). Assim, suas maldades são irrelevantes perto da porcariada que paira onde elas vivem.
Ou alguém aí acha a Carminha (Adriana Esteves) gente boa? Rita/Nina cai numa casa que deveria constar de um dos círculos do inferno de Dante. Num ambiente escuro e decorado segundo a distorcida visão de algum psicopata (aqueles abacaxis falsos na mesa são de arrepiar), vivem pessoas de caráter no mínimo duvidoso. A traição corre solta, não dá para confiar em ninguém e o mais bonzinho ali sonha em depenar a mãe. Só nos resta torcer para Débora Falabella rasgar aquele uniforme patético e tocar fogo na bagaça.
Quanto a Jogos Vorazes, Jennifer Lawrence poderia não apenas eliminar a turma que se envolve com ela no tal Big Brother do mal, mas também atirar contra o Stanley Tucci – que interpreta uma espécie de Pedro Bial ainda mais diabólico.
No bom filme de Gary Ross – pena aquele final apressado –, Lawrence vive num daqueles lugares distópicos nada atraentes. Pobre, arrimo da família, decente, ela acaba sendo sorteada para participar de um reality em que a única salvação é eliminar – literalmente – todos os outros participantes.
É como se o mundo tivesse virado um lugar “mezzo Roma antiga, mezzo período paleolítico, mezzo Projac”.
Lembrando o chocante Battle Royale (de Kinji Fukasaku, um dos filmes preferidos de Quentin Tarantino), Lawrence é, com todos os problemas, a nossa reserva moral. Pau neles.
E Charlize Theron? Como última esperança para salvar sua vidinha miserável, resolve voltar no tempo e reconquistar seu ex, um caipirão de um lugarzinho de Minnesota.
Joven Adultos tem direção de Jason Reitman e roteiro de Diablo Cody (a duplinha de Juno) e não poderia ser mais dramático – apesar da venda como comédia.
Atrás de um sonho impossível, Charlize tem que enfrentar o planeta KenTacoHut. Navegando por bares de esportes, cerveja ruim e porres com um deficiente físico, ela vai entender por que virou uma menina tão amarga. Só nos resta ter pena – de todos.
E por uma dessas coisas do destino, ainda não sabemos o final de nenhuma das histórias. A vingança das meninas está apenas começando.

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