O escritor Alexandre Soares Silva escreveu numa edição da revista Alfa que os dois últimos episódios da série Boss são melhores do que qualquer coisa que a TV nacional já tenha feito – incluindo aí Armação Ilimitada.
Exagero, claro. Não precisamos pegar dois capítulos da série criada por Farhad Safinia. Podemos ficar apenas com o primeiro episódio e boa. Ok, dou um desconto e nem chego tão longe: só o piloto – de nem uma hora – dá um pau em tudo o que já tentaram produzir por aqui quando o assunto é drama político.
Com oito episódios, essa primeira temporada de Boss mostra o cotidiano de Tom Kane, prefeito de Chicago envolvido com as maracutaias de sempre e uma doença degenerativa que o oferece apenas mais poucos anos de vida.
Interpretado por um iluminado Kelsey Grammer (aquele mesmo de Frasier), o alcaide nos oferece um poço de contradições. Irascível, inteligente, carismático e por muitas vezes insuportável, Tom Kane é um dos personagens mais vibrantes – e complexos – dos últimos anos.
O piloto foi – bem – dirigido por Gus Van Sant. Sua pegada eletrizante até nos faz gostar mais um pouco de seu filme político Milk.
Scorsese com Boardwalk Empire, Michael Mann com Luck (infelizmente cancelada) e Gus Van Sant com Boss mostram o interesse atual dos diretores de longas-metragens em projetos caprichados para a TV.
E no Brasil? Que história teríamos com a série Carlinhos Cachoeira, the Boss, hein? Personagens escamosos, corrupção, sujeiras, falsos mocinhos carecas e muitos diálogos calcados em Shakespeare.
Na verdade, poderíamos ter uma temporada bem Shakespeare, soturna, e outra só Nelson Rodrigues, com bastante sacanagem e cenas inusitadas.
Mas cadê? Parece que não somos muito chegados em dramas políticos. E quando eles acontecem – como a minissérie Aquarela do Brasil – a situação é toda alegórica, cômica, um pouco tropicalista e anacrônica demais.
Em Boss, o sujeito é o prefeito de Chicago. As cenas acontecem nas ruas, no meio do povo, promovendo um tom realista dos mais interessantes.
Como fazer aqui um drama com o prefeito de São Paulo? Teríamos que inventar uma grande metrópole fictícia? A gente não pode escrever os nomes das pessoas, fazer citações, pode? Coisa chata.
Ainda bem que entendemos um pouco mais sobre o poder vendo essas coisas supimpas que os gringos fazem.
Enquanto isso, uma série como Boss não poderia mesmo ser feita no Brasil porque dependeria do dinheiro do governo, ou seja, do… Carlinhos Cachoeira. Coisa chata mesmo.

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