O ditador vem aí (ainda bem)

Ali G, Bruno e Borat são as criações mais famosas do inglês Sacha Baron Cohen. Como escreveu Dennis Lim no jornal The New York Times, “o grande tema de Baron Cohen é o choque cultural, algo que ele vê como fonte interminável de humor e de horror”. Ao levar esse conflito até as últimas conseqüências, o comediante consegue provocar meio mundo e invariavelmente revestir suas piadas com forte teor político.

Seu próximo filme é O Ditador, em que interpreta o almirante general Aladeen, déspota da fictícia república de Wadiya – que fica no Chifre da África, ao lado da Somália.

O confronto – portanto, o humor – surge quando o tirano tem que passar uma temporada em Nova Iorque, fato que irá revelar tanto sobre a vida de Aladeen como sobre a dos norte-americanos.

Dirigido por Larry Charles (o mesmo de Borat e Bruno), O Ditador foi realizado de maneira “normal”, com atores profissionais, roteiro, cronograma, ruas fechadas etc. Anteriormente, Baron Cohen preferia usar a ação espontânea de seus coadjuvantes – famosos e anônimos.

Diz Charles em entrevista ao NYT: “Estávamos acostumados a andar por aí em duas vans sem identificação, sair rapidinho, filmar em uma só tomada, voltar para a van e ir embora correndo – e, mais tarde, ser processados”.

Outra vez teremos uma peça de Hollywood escandalosamente contemporânea, tratando de assuntos de hoje – e deixo a qualidade de certas piadas proposidatamente de fora.

O cinema, até por ser uma arte ainda jovem e que depende muito de avanços da tecnologia, é um meio propício para se discutir os acontecimentos no calor da hora. Ele parece caminhar junto com todos nós, com a mesma pressa, e até mesmo comportar com graça nossas leviandades e erros de interpretação.

Claro, lidando com imagens, ele sofre a concorrência da TV e da internet de forma ainda mais abrupta do que os outros veículos – tudo no cinema corre o risco de ficar caquético da noite para o dia.

E aí chegamos ao cinema brasileiro, que parece sempre estar um passo atrás, lidando com velharia, discutindo verba e temas no mínimo pouco interessantes.

Alguns de nossos diretores ficam num eterno “mimimimi”, implorando dinheiro, quando hoje fazer filmes virou coisa de criança.

Hoje, nunca estamos em cima da pinta, falando sobre os Cachoeiras, brincando com nossas mazelas, sacaneando o Lula, teorizando sobre a miséria etc.

Tirando os suspeitos de sempre, como Tropa de Elite, Cidade Deus, os jovens de Trabalhar Cansa etc. e tal, nosso audiovisual carece de pegada, de urgência.

Quando o assunto é comédia, então, estamos na rabeira, ainda só na guerra dos sexos, briguinhas familiares e uns dick flicks fajutos. Falta ousadia, nonsense, humor. Falta falar sobre o mundo – até mesmo na TV, onde estariam aqueles mais saidinhos.

Vejam só quanto assunto Baron Cohen levantou ao falar para o NYT. Ele respondeu uma pergunta sobre o ano ruim para ditadores – por causa da Primavera Árabe e da morte de Kim Jong-il – como se fosse o Aladeen: “Alguns diriam que a era da mídia impressa está chegando ao fim, mas você não me vê jogando isso na sua cara, não é mesmo New York Times? E que história é essa de só deixar a gente ler dez artigos por mês sem pagar? E o tirano aqui sou eu?! Mas, para responder a pergunta, não, não acho que a era da tirania esteja chegando ao fim. Estamos no olho da tempestade, só isso. A Primavera Árabe não passa de um modismo bobo, como os ‘direitos humanos’. E eu não me preocupo com o que está acontecendo em Wadiya – o povo me ama profundamente. Mas, por via das dúvidas, tirei os meses de primavera do calendário e fiz fevereiro ter 128 dias”.

Seria bom ter um Baron Cohen por aí invadindo as obras da Copa, a CPI, a redação da Veja… Mas vamos nos contentar com o original, fazer o quê.

Deixe um comentário

Blog no WordPress.com.

Acima ↑