Pelo jeitão da coisa, a temporada de ação nos cinemas do verão norte-americano começou mais inteligente este ano.
A moçada tem comentado mais sobre as sacadas dos roteiros de Os Vingadores e MIB3 do que das cenas de violência ou quebradeira. Imaginando que teremos pela frente as papo cabeça do Nolan no novo Batman, o terror bem maquinado de Ridley Scott com Prometheus e alguma aventura mirabolante com Marc Webb em The Amazing Spider-Man, o cinemão que vem lá de cima promete.
Não é que o Steven Johnson tem razão? Cada vez mais a cultura pop tem demonstrado que até o lixo que produz é mais limpinho e reciclável. Saiu no Brasil o livro Tudo que É Ruim É Bom para Você (Zahar, tradução de Sérgio Góes), lançado nos EUA em 2005 por Johnson, rotulado como “pensador do ciberespaço”. (O leitor Anderson deixou um recado lá embaixo informando que essa é uma nova edição, pois o mesmo livro foi lançado em 2005 no país por outra editora. A tradução atual da Zahar é da segunda edição americana do título, publicada em 2006.)
Apesar de a leitura hoje se concentrar em exemplos defasados (Senhor dos Anéis ainda é o grande produto cultural no livro, pois Guerra dos Tronos não tinha nascido, por exemplo), vale a pena olhar o combativo e sólido ensaio sobre como coisas aparentemente descartáveis e populares – no mau sentido – estão nos deixando mais sábios e espertos.
A idéia é divertida e bem pensada; Johnson traça uma hipotética Curva do Dorminhoco, baseada no filme O Dorminhoco (1973), de Woody Allen. Para ele, estamos sendo bombardeados por games, séries de TV, filmes e sites que nos estimulam intelectualmente. Só que não percebemos isso muito bem, daí a comparação com o personagem de Allen, que dorme durante dois séculos e quando desperta no futuro observa que a sua sociedade tinha bons valores. Uma variação do “a gente era feliz e não sabia”.
Escreve Johnson sobre seu trabalho: “Este livro é uma obra de persuasão à moda antiga que, em última análise, pretende convencê-lo de uma coisa: na média, a cultura popular ficou mais complexa e intelectualmente estimulante ao longo dos últimos trinta anos”.
Missão dada é missão cumprida, então o autor se dá bem quando fala dos games e da TV. Os capítulos sobre internet e cinema são mais complicados, pois têm que reunir em poucas páginas uma imensidão de provas e contraprovas.
Mas taí MIB3 que, se não é nenhum Um Corpo que Cai, deixa o público pensar um pouco, rir das tiradas e se perguntar “como os caras têm essas idéias?”.
O filme de Barry Sonnenfeld tem viagem no tempo (pra trás), dezenas de referências divertidas sobre os outros dois longas da série, uma interessante brincadeira com a física (e até mesmo com a teoria das cordas?) e um ou outro alienígena que explode – além de uma estupenda atuação de Josh Brolin.
Pois bem, uma obra que supostamente deveria nos entregar uma saraivada de cenas empolgantes com Will Smith, deve entrar na história com as piadas que faz sobre Andy Warhol. Vale a reflexão, certo?
Creio que estamos agora sim vivendo um bom momento do cinema popular, pois ele tem que correr atrás das intensas e complexas tramas geradas pela TV.
Com tempo, dinheiro e talento, os canais norte-americanos não cansam de surpreender a turma, mandando diversas tempestades cognitivas, uma atrás da outra (quando a fonte parece secar, vem o J.J. Abrams com o trailer de Revolution).
O subtítulo do livro de Johnson é acertado: “Como os games e a TV nos tornam mais inteligentes”.
O cinema, com limitações narrativas por causa do tempo e espaço, corre atrás do prejuízo. Mas acho que também será capaz de reagir com graça e competência.
Claro, continuamos falando de Hollywood. Quanto aos produtos brasileiros, a gente não é essa Coca-Cola toda. Ainda nem entramos na Curva do Dorminhoco.

Na verdade este livro já foi lançado no Brasil em 2005, com outra tradução. Conheci esta idéia dele através de uma matéria de capa da Veja, daí comprei o livro.
Caso interesse:
http://veja.abril.com.br/110106/p_066.html
http://www.submarino.com.br/produto/1/1060579/surpreendente!:+a+televisao+e+o+videogame+nos+tornam+mais+inteligentes
Não conhecia essa outra edição, Anderson. Obrigado pela informação e links. Também já coloquei lá no texto. Sem dúvida seria uma leitura ainda mais interessante há seis anos. Valeu. Abraço.