Cadê o nosso “Porky’s”?

Então o jovem brasileiro não sente falta de um Porky’s ou de um Clube dos Cafajestes para chamar de seu? Cadê aquele filme porreta e sacana com sotaque português?

Três filmes recentes vindos de algumas paragens diferentes nos mostram como ainda é bacana ver histórias interessantes que envolvam peitos, uma boa dose de irresponsabilidade, bastante bebida e, claro, virgindade.

Hasta La Vista, de Geoffrey Enthoven, é o exemplo belga e o mais radical na temática. Lá está a turminha cheia de testosterona querendo afogar o ganso enlouquecidamente. Para tanto, precisam atravessar a França e comparecer num prostíbulo espanhol, a casa de todas as casas.

A primeira imagem do longa mostra duas garotas correndo serelepes na praia e balançando com graça suas bonitas mamas.

Até aí, um road movie safadinho, certo? Só que os três varões que pretendem molhar o biscoito carregam algumas peculiaridades: um não enxerga, o outro é tetraplégico e por último temos aquele com câncer. Juntos, eles resolvem alugar uma van, contratar um enfermeiro e cair na estrada, passando por uma rota do vinho e finalmente encarando as delícias de um inferninho.

Engraçadíssimo, com boas reviravoltas, excelente desenvolvimento de personagens e atores iluminados (a cena em que eles estão “normais” é impressionante), Hasta La Vista é o Porky’s dos “malacabados” (parafraseando o jornalista Jairo Marques).

Então dá pra gente falar de jovem, estripulias e contestação de um jeito diferente? Sim, senhor.

Também tivemos nos últimos meses Chronicle, de Josh Trank. Mais uma vez o personagem principal é alguém fora do eixo: Andrew, um garoto retraído que apanha do pai e sofre com a mãe doente.

Ele começa a registrar sua vida com uma câmera, assim pode deixar para a posteridade (e para a lei) a atuação calhorda do pai.

Porém, ao tomar contato com um estranho objeto encontrado num buraco/caverna, ele e mais dois amigos (um deles seu primo) adquirem alguns superpoderes, como voar e mover objetos com a força da mente (telecinese).

Como não ser tentado a usar isso para finalmente conquistar certa popularidade, umas garotas gostosinhas e se vingar dos péssimos tratos?

Toda o dilema moral dos jovens é acompanhado pela esperta câmera de Andrew, que agora consegue movê-la pelos cantos, fazendo travellings e tomadas espetaculares, graças ao seu poder (bela sacada de direção, fazendo com que tudo fique suave e profissional).

Então lá vamos nós nesse universo jovem cheio de desafios, bullying, bebida, irresponsabilidades e sonhos.

Bons efeitos, uma excelente apropriação do espaço (a cidade de Seattle) e um ritmo surpreendente fazem de Chronicle um Porky’s dos nerds fãs de quadrinhos e super-heróis.

E que tal Project X, espécie de A Bruxa de Blair dos punheteiros? Nima Nourizadeh dirigiu esse pesadelo adolescente, um pequeno clássico da juventude youtube.

Thomas faz aniversário e quem ganha o presente são seus amigos. Resolvem aproveitar a ausência dos pais do aniversariante para fazer a festa de todas as festas. Um dos companheiros registra todo o processo com uma câmera.

Claro que as coisas saem do controle e o evento vira uma revolução, uma “primavera na América”.

O filme também é montado com imagens de celulares dos supostos participantes da festa.

Vale não apenas pela estética, mas também por trazer uma lição imoral: em algum momento os jovens têm que explodir, testar limites e pisar no acelerador.

Project X fala exclusivamente com o jovem, deixando qualquer adulto ou com inveja (“putz, como eu queria estar naquela festa”) ou furioso (“jovens retardados!”).

Por aqui, os cineastas têm bastante irresponsabilidade quando pegam a grana pública para fazer certas porcarias; poderiam ter também esse desrespeito na hora de tratar o jovem, mostrando a galera mais solta, com seus problemas de virgindade e mais zoeira.

Seria legal assistir a alguma coisa leve, que se aproximasse mesmo da molecada, usando até mesmo um título imbecil como A Zona da Nova Classe Média.

Há um certo pudor no ar quando o assunto é o jovem. Ou não?

Então que refilmem Armação Ilimitada. Alguma coisa tem que ser feita. Porky’s também é cultura.

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