Fazia tempo que eu não via um filme tão espetacular na sua primeira hora; Prometheus, de Ridley Scott, é visualmente impressionante, com um prólogo de arrepiar (que começo de existência esteticamente impecável o homem ganhou na tela) e uma narrativa precisa, tranqüila, que surpreende pela sua calmaria e apresentação de personagens. Tudo isso ali durante os 45 minutos do primeiro tempo.
Fazia tempo que eu não via um filme com tanta quizumba na sua parte final; Prometheus é inacreditavelmente confuso e bagunçado no seu segundo tempo. Tudo aquilo que antes era paz vira um inferno insuportável de ação desenfreada, reviravoltas ridículas e diálogos constrangedores. Um desastre que lembra as partidas mais esquisitas e memoráveis do futebol. Sabe quando um time volta do intervalo e começa a tomar um gol atrás do outro e ninguém consegue explicar por quê?
Por isso mesmo Prometheus é imperdível. Não dá para reclamar de falta de turbulência ou surpresas. E Ridley Scott consegue alguns momentos dignos de seus melhores trabalhos, como Alien, Os Duelistas ou Blade Runner.
Ainda bem que a protagonista surge de forma promissora: Elizabeth Shawn é uma cientista que merece mais alguns filmes – e sua intérprete, Noomi Rapace, a garota tatuada sueca original, um dos rostos mais interessantes da atualidade. A cena em que ela mesma se opera e retira um feto macabro do próprio ventre merece o Oscar de Puro Terror (uma sequência estupenda).
A história é simples: no ano de 2093 a nave Prometheus encontra um canto do universo que pode servir de morada para nossos criadores. Até aí, estamos em terreno confortável, com a fé superando todo o embate entre ciência e religião – há que se ter fé para buscar nossa origem.
Se a gente ficasse só no tema tão espinhoso já estava bom. O problema é que o filme começa a abrir infinitos leques, que precisariam de meia dúzia de Stephen Hawkings para dar conta do recado. Temos a busca pela vida eterna, a procura por Deus, um robô enciumado (Michael Fassbender, sempre preciso), um casal em crise, uma filha desesperada para ser amada pelo pai, engenheiros superpoderosos, nêmesis pavorosas, e por aí vamos.
Como dar conta disso tudo? Bom, um dos roteiristas é o Damon Lindelof, co-criador de Lost. Por aí dá para sacar que o estilo do sujeito é confundir mesmo (Cowboys & Aliens, que ele também escreveu, tinha o mesmo ardor pela zoeira). Por um momento fiquei esperando o Jack aparecer e nos contar que tudo não passava de um sonho.
Pena. Porque visualmente Ridley Scott estava dando um banho filmando luas distantes, cavernas que viram espaçonaves e, claro, monstrinhos tão sedutores quanto enigmáticos.
Não foi a volta triunfal de Ridley que eu esperava (apesar que Rede de Mentiras, de 2008, e O Gângster, de 2007, têm seus excelentes momentos). Mas Prometheus, mesmo com toda aquela desordem depois que eles começam a ser perseguidos pelos bichos, é inesquecível, com um 3D supimpa e uma direção de arte de nos romper a mente.
Mas não dava para evitar aquela zona final, não?

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