Que coisa espetacular o Woody Allen conseguiu no Brasil. Nem precisa fazer essa papagaiada de I Love Rio. A brasileirada já ama o nova-iorquino de paixão (parece que menos a Barbara Gancia, que outro dia desceu a lenha no sujeito).
Seus filmes estréiam por aqui num clima de blockbuster, como se fosse algum do Homem-Aranha ou mais uma viagem em 3D do James Cameron. Na primeira sessão de seu longa mais recente, Para Roma com Amor, numa sexta à tarde, umas cem pessoas se aglomeravam num cinema da Paulista para curtir as piadas e o romantismo dessa espécie de World Tour que o sujeito está fazendo – filmando vários pontos turísticos da Europa.
E como prova do sucesso, o público era o tal dos oito aos 80, digno dos desenhos da Pixar, sonho de qualquer produto cultural. Olha aí um estudo que valeria a pena levar pra frente. O que essa comoção no Brasil por causa dos filmes de Woody Allen diz sobre nosso comportamento social? A tal nova classe média adora Capitão Nascimento, Avatar e Woody Allen? WTF?
Com toda essa expectativa, deu para sentir no ar o cheiro da decepção após as duas horas de exibição. Uma mocinha atrás de mim até murmurou um condescendente “ele tá velhinho, mas continua fofo”, mas parece que se a platéia se unisse, Para Roma com Amor ganharia uma nota seis – mais pelo esforço do que pelas acanhadas qualidades.
Até dá para entender a opção por fazer um filme em episódios (coisa que eu acho chata demais) isolados, em vez de optar pelo onipresente “painel com várias histórias que acabam se juntando no final” (outro treco insuportável quando mal feito). O recurso usado por Allen nos leva diretamente para alguns clássicos do cinema italiano, quando esse papo ajudava a colocar vários diretores na mesma fita e atrair grande público.
Então temos quatro enredos que se passam em tempos diferentes, com personagens diferentes, mas na mesma cidade. Só uma funciona bem, justamente aquela em que o próprio Woody Allen interpreta um empresário musical aposentado que fica fascinado pela voz do pai de seu genro. Lidando com um dos clichês italianos, a ópera, o episódio se mostra surpreendente, com boas tiradas e dinâmico.
E vejam lá que curioso, o filme peca justamente pelo excesso de Woody Allens. Cada segmento apresenta um sujeito neurótico, com problemas de relacionamento, um tanto inseguro, e uma característica da Itália.
Roberto Benigni é o homem simples que passa a ser perseguido como se fosse uma celebridade (entramos na seara dos paparazzi, outra palavra de berço italiano e felliniano); Jesse Eisenberg faz um estudante de arquitetura que vê seu mundo ruir ao conhecer a amiga da namorada (espaço para observarmos monumentos, o Coliseu, as termas); Por fim, Alessandro Tiberi vem do interior com sua bela mulher e procura começar a vida na capital (episódio completamente deslocado, mas que aborda o próprio cinema e a comédia italiana).
Só faltou o calcio, mas tudo bem. Bem que poderíamos ter uma historinha com o Balotelli, para provar que aos 76 anos, Allen ainda está em cima da pinta.
De qualquer maneira, as instituições italianas estão bem representadas, Roma exala esplendor e charme, e a crise econômica e a política estão fora da tela, assim ninguém fica aborrecido.
Se Para Roma com Amor soa banal (principalmente na crítica ingênua e bobinha do episódio de Benigni) em seu roteiro, não dá para dizer a mesma coisa em relação a suas mulheres.
Nos dois últimos filmes de Allen, Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos e Meia-Noite em Paris, as meninas estavam histéricas, insuportáveis, descontroladas.
Porém, agora as garotas estão deslumbrantes, centradas e capazes de encher o filme com palavras bem razoáveis.
Alison Pill (canadense, ótima em The Newsroom) inunda tudo com seus olhinhos esbugalhados; Judy Davis (australiana) nos faz ter boas lembranças de sua personagem em Passagem Para Índia; Alessandra Mastronardi (italiana), perdida nas ruas de Roma, é um achado de candura e inocência – mas com aquela dose saudável de safadeza; Greta Gerwig (norte-americana) é a loirinha “intraível”, que acaba sendo engolida injustamente pelo destino; Penélope Cruz (espanhola) parece uma panela de pressão, prestes a explodir naquele vestidinho vermelho pecaminoso, espalhando coxas e peitos pra todo lado; Ornella Muti (italiana) dispensa comentários; e Ellen Page (canadense), com sua graça meticulosa e maquiavélica, poderia facilmente levar umas palmadas que a gente iria vibrar.
Pelo menos, Para Roma com Amor mostra que, de fato, a vida é belíssima na Itália.

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