Uma lista que precisa de animação

Geralmente uma lista causa discussão pelas ausências. “Cadê o Ronaldinho?”, diz o torcedor do Galo a cada convocação do Mano. Quase sempre há pouco espaço para muitas opiniões. Assim também acontece quando inventam esse papo de “dez mais alguma coisa”. Como encaixar o mundo em uma dezena de representantes?

A revista de cinema britânica Sight & Sound tenta resolver essa história divulgando a cada dez anos um levantamento com os 250 maiores filmes de todos os tempos (aqui). Não sei como chegaram nesse número, mas acho que é um tamanho razoável. Em cento e tantos anos de história da arte cinematográfica, certamente teríamos uma média de duas obras-primas por ano.

Então parece que a briga rola somente por causa dos dez primeiros postos – neste ano, deu Um Corpo que Cai (1958), de Hitchcock, na cabeça. A convocação é boa, duro é escolher os titulares – bem diferente do que acontece com aquele programa do SBT.

A pesquisa foi realizada com 846 cineastas, críticos e curadores. Quem não tem muito o que fazer, pode clicar aleatoriamente nos eleitores e observar as listas individuais dos dez mais – eu dei azar, o primeiro que olhei colocou Borat como o melhor filme da história.

Pois não é que mesmo com esse imenso – e excelente – universo de escolha, eu quero reclamar por causa de inacreditáveis ausências?

Não consigo entender o desprezo pelos filmes de animação.

Até respeito – mas discordo – a rapaziada achar que nenhum desenho poderia estar entre os dez mais. Só que a primeira animação – das quatro que estão no resultado final – aparece apenas na posição 154. É isso aí: 154.

Meu Amigo Totoro (1988), de Miyazaki Hayo, chega na rabeira e ainda divide o honroso canto com outros 15 longas – algumas boas gemas, é verdade.

Com justiça, Miyazaki também emplaca A Viagem de Chiriro (2001) no 202º lugar – dividindo o posto com as outras duas animações restantes: Tale of Tales (1979) e Wall-E (2008).

Nenhum entre os, vá lá, cem primeiros? Acho esquisito, principalmente porque há uns dez anos escutamos o seguinte papo: “as animações estão salvando Hollywood da mediocridade criativa”.

E não é pela animação que começamos a nos apaixonar pelas imagens? Esse primeiro contato com o movimento na tela, com a abstração fabulosa dos desenhos, vai lá para o limbo na lista da Sight & Sound. Por quê?

Arrisco dizer que sem os desenhos, não existiria público para o cinema. Se eu não tivesse visto Mogli no antigo Cine Comodoro quando tinha meus seis anos, acho que tudo o que envolve a tal sétima arte perderia um pouco o sentido.

Sério, só quatro desenhos em 250 obras? Pfui.

Vamos ver. Talvez a moçada que deu tanto poder para as animações nos últimos 20 anos ainda não tenha idade para votar. Tenho certeza que o cenário vai mudar na próxima lista. Hitchcock que se cuide, porque a Pixar vem aí.

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