Uma frase do Bruno Wainer, sócio-diretor da Downtown Filmes, não me sai da cabeça. Em reportagem na Folha, o sujeito disse sobre as comédias: “É um gênero mais fácil de produzir. Só precisamos de um bom texto e um bom comediante”. Só? Caramba, eis um produtor/distribuidor otimista.
Pois faz tempo que não temos por aqui um texto mais ou menos interessante no gênero – e menos ainda um comediante espetacular nas telas.
Taí O Ditador, com Sacha Baron Cohen, provando que fazer rir durante uma hora e meia – e ainda contar uma história! – é um negócio complicado pra chuchu.
Sou adepto da teoria que cômico mesmo é aquele capaz de provocar graça também com o físico. Por isso, o Didi (o Renato, não aquele da MTV) foi um gigante nos cinemas – o mesmo vale para os outros trapalhões. E creio que o Tom Cavalcante também poderia arrebentar nas bilheterias – e o Adnet, o Sterblitch, o Carioca e mais meia dúzia capaz de caras e bocas.
Mas no Brasil estamos bem no meio do reinado do stand-up, da palavra. Há um certo desprezo quando o assunto é escorregar na banana. Pior: o texto dessas comédias recentes é de doer (De Pernas pro Ar e Cilada.Com são terríveis).
A moda agora é fazer “humor inteligente”, como se todo mundo fosse o Woody Allen ou o Steve Martin. Vixi.
Pra mim, não existe humor mais esperto do que o físico (certo Harpo Marx?). É dificílimo e, quando bem feito, incomparável. Deveríamos apostar mais nisso por aqui – Se Eu Fosse Você foi um blockbuster por causa da comicidade física da troca de sexos.
O Ditador pode ser crítico, debochado e sacana no texto – muito bom e fortíssimo. Mas é engraçado mesmo por causa do porte do general Aladeen (observe quantas piadas em cima da barba dele são feitas), dos gestos dos atores, dos pêlos no sovaco de Anna Faris, da masturbação, daquela cabeça morta transitando entre os vivos etc.
A comédia física extrapola fronteiras – lembram do “macaco chupando um pinto é engraçado em qualquer lugar”? Aladeen é hilário por causa de sua postura – e nem tanto pelo que fala.
Sacha Baron é talvez o humorista mais completo do mercado, o único que pode nos oferecer algo próximo dos grandes – Chaplin, Keaton, Lloyd etc.
Já quando penso em direção, os irmãos Bobby e Peter Farrelly são os que mais se aproximam desse humor anárquico e visual. Em seu filme mais recente, The Three Stooges, eles pisaram no acelerador e foram até as últimas consequências. Apostaram tanto no físico e nessa volta ao passado, que o longa virou uma aberração – com momentos de genialidade.
Não estamos mais tão acostumados em achar inteligente a piada visual. Virou coisa de desenho animado, dos filmes da Pixar, do Shrek.
Pode ser coisa da minha cabeça, mas há um preconceito contra a piada “finger-in-your-eye”. Prestamos atenção no texto, mas esquecemos das mãos, pés, olhos etc.
O que estou querendo dizer é que a torta na cara pode ser tão eficiente – e brilhante – quanto as piadas dos cômicos mais ferradões do mundo, como Rick Gervais, Louie e Larry David (que interpreta uma freira em The Three Stooges). Não vamos deixar de lado a palhaçada só porque descobrimos o valor do roteiro e de uma boa história.
Estão faltando no cinema nacional a casca de banana, a perseguição maluca, os carros que batem, os corpos sendo arremessados longe, a anarquia do humor físico. Sim, estamos sem Trapalhões.
Olha um paradoxo interessante: na verdade, esse reino do stand-up brasileiro é muito certinho.

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