Alegria, alegria: os documentários estão aí

Os documentários – os musicais, principalmente – já há algum tempo são os melhores filmes produzidos no país. O principal cineasta brasileiro em atividade, aquele que sempre parece ter algo a dizer, é o Eduardo Coutinho – mestre incontestável do gênero. O João Moreira Salles foi a grande revelação da última década (Santiago e Entreatos são fenomenais). Até mesmo o diretor mais importante, Nelson Pereira dos Santos, fez recentemente aquela belezura sobre o Jobim.

O cinema brasileiro hoje vive de seus documentários. Claro que tem aí o Giorgetti com um longa estupendo (Cara ou Coroa, leia mais aqui) e ainda acompanhamos dia desses o Trabalhar Cansa, de Marco Dutra e Juliana Rojas. Sim, o Cláudio Assis sempre nos mostra bastante frescor (hoje, mais de atuações do que de temas), mas tirem os documentários e sobrará pouca relevância intelectual para o cinema nacional.

O mais novo exemplar da brincadeira é Tropicália, de Marcelo Machado. Ninguém precisa usar muito a cabeça para imaginar que estamos diante da história desse movimento sonoro, um emaranhado de proposições e criação que inundou cinema, teatro, artes plásticas, literatura – e música, claro – no final dos anos 60.

Com impressionantes imagens de arquivo (há um assustador debate na FAU), depoimentos inspirados (Tom Zé precisa de um programa na TV) e boa montagem, o longa é tão vibrante que eu poderia ficar ali alguns dias vendo a energia daquela turma.

Agora, esses documentários todos começam a se unir, formando um maravilhoso registro da memória nacional. Você começa a juntar as peças, pegando trechos do filme do Arnaldo Baptista, pedaços daquele sobre o festival da Record, depoimentos do Tom Zé e vai pensando em Jobim, Raul, Dzi Croquettes etc. Já dá para fazer uma linha cronológica, assistir tudo enfileirado e entender um pouco como as coisas se deram em matéria de música neste país.

Se fosse só isso, já estava bom demais. Mas cada um desses filmes traz uma cativante reflexão sobre aspectos da cultura brasileira. Em Tropicália, mais do que a música, temos o nefasto poder da supressão das liberdades, a ditadura, o isolamento, a dureza do preconceito.

Numa cidade – São Paulo – que parece hoje bem “endireitada”, com um certo coro de “ordem e progresso” no ar, o documentário cai como uma bomba (bom momento para colocar São São Paulo no repeat). O que o governador diria da obra Seja Marginal, Seja Herói?

Então tanta coisa para fazer, e o pessoal meio careta, só no computador, criando remix daquele coreano, mas sem nada muito bacana – ou novo – para dizer.

Mas os documentários estão aí. Vamos ao cinema.

http://www.youtube.com/watch?v=Oh-i7oir72w

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