A VIDA DE PI
Ainda dá tempo de ver em 2012 esse pequeno ensaio de Ang Lee. Tudo aqui funciona para promover a beleza, o encantamento. É o Hugo Cabret deste ano, usando a tecnologia para enquadrar velhas histórias e questões (e não para só jogar poeira nos olhos). Perspicaz e emocionante, celebra nossa fantástica capacidade de fabulação, seja para inventar Deus ou o cinema. Essa bela luta pela sobrevivência – e para tornar nossa batalha digna e transcendente – é a imagem do ano.
HOLY MOTORS
O Cinema de Leos Carax faturou o primeiro lugar na bonita – e discutível – lista dos melhores filmes de 2012 da Cahiers du Cinema. Este é um selo de qualidade bem real para um longa tão impreciso (no bom sentido) e cheio de significados ocultos (também ótima qualificação). A turma ainda está dividida sobre a história desse ator/empresário/ser místico que transita por Paris enquanto representa diversos papéis. Uns acham o treco “pretensioso demais” (isso então é pecado?); outros qualificam Carax como gênio e pronto. Não faltam imagens marcantes, momentos surreais e bastante provocação. Na sociedade do entretenimento, um filme que promove reflexão causa mesmo estranhamento.
COSMÓPOLIS
Então este filme de David Cronenberg (“a volta de Cronenberg sendo Cronenberg”, segundo Inácio Araújo – que, aliás, detesta Holy Motors) faturou o segundo lugar na lista da Cahiers. Fantástica (em vários níveis) leitura do livro de Don DeLillo. Um texto preciso e precioso sobre o espírito de nosso tempo. Há muita coisa ali, tanto de atuação (Binoche me parece sempre impressionante) como de subtexto. Um filme adulto, interessantíssimo. Talvez um pouco impressionado demais com a palavra e menos com a imagem. Mesmo assim, essencial.
UM ALGUÉM APAIXONADO
Kiarostami é o cara. Ninguém consegue fazer um cinema tão “conversa”, capaz de captar os subentendidos de um papo furado, de um momento. Parece que não existem diálogos ou dramaturgia, mas sim vida. Em suas mãos, o cinema adquire plenitude e de fato se incorpora em nossa existência. Sem nenhum óculos 3D, o iraniano é capaz de eliminar a distância entre nós e a tela. Aqui encontramos um tradutor, uma garota de programa, um mecânico. Ou não. As relações são difusas, como aquelas que vivemos no cotidiano. E, mesmo fora do que estamos acostumados, o roteiro sempre empurra as ações pra frente, como em Hollywood. Impressionante.
CARA OU COROA
Delicado filme de Ugo Giorgetti. Das estreias nacionais na seara de ficção, a melhor do ano, fácil, fácil.
O SOM AO REDOR
Só vai aparecer no circuito em janeiro, mas já é o melhor nacional de 2013.
FRANKENWEENIE
Filme importante de Tim Burton. Num ano especialmente pouco memorável para as animações (Pixar ficou apenas numa boa média), Burton vem com essa homenagem ao terror e, principalmente, à ciência. Divertido, elegante, com excelentes personagens e técnica exuberante, coloca o cientista no centro do mundo. O que poderia ser mais propício?
PROMETHEUS
Vontade de rever sempre a primeira hora dessa ficção de Ridley Scott. Pena que também há o desejo de nunca mais assistir ao segundo tempo do filme, quando tudo vai para o buraco. Ainda assim, há cenas poderosas e a estrela de Noomi Rapace (ela tem algo).
TED, 21 JUMP STREET, RUBY SPARKS, AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL
Todos mostraram momentos cômicos interessantes e alguma ousadia. Ted causou aquele tumulto por causa da maconha, da cocaína e de uma bronca do deputado Protógenes; 21 Jump Street tem a cena hilária da viagem de ácido dos moleques (e o já famoso “fuck you science”); Ruby Sparks trata da droga da literatura; E As Vantagens… da insanidade que é a passagem para o mundo adulto. Todos podem ser apreciados.
VEEP e COMMUNITY
As comédias sempre ganham seu lugar nas listas. Big Bang Theory e Two and a Half, por exemplo, continuam com um fôlego impressionante (apesar que previsíveis e bem maçantes, às vezes). Veep trouxe Louis-Dreyfus brilhando como a patética vice-presidente dos Estados Unidos (e do mundo, por tabela). Rápida, com aquele toque sarcástico e deprimente do humor inglês. Bastante vergonha alheia. Community ganhou sobrevida e assume o posto da mais cult entre as cults. Alguns episódios só podem mesmo ser completamente compreendidos por fanáticos (de muitas áreas). Mas é de uma criatividade impagável.
HOMELAND
Ainda não cheguei ao final da segunda temporada. Dizem por aí que foi um horror. Pena. Por enquanto ela é um arrepiante suspense que poderia ser apresentado por Hitchcock. Há tudo ali que lembra o mestre, como mcguffins pra todo lado, uma ação constante, surpresas e, principalmente, nós sempre sabemos muito mais do que a perturbada mocinha. Portanto, estamos sempre na frente gritando “cuidado, Carrie!”. Bem construída, politicamente relevante, forte e com Claire Danes.
THE NEWSROOM
A série sobre jornalismo de Aaron Sorkin ganhou o título nos EUA de “aquela que amamos odiar”. Todo mundo reclamou desse exército de Quixotes que resolve transformar um noticiário em algo decente, honesto, digno e competente. Esse papo de “fazer jornalismo de verdade” parece conto da carochinha. Sem contar que Sorkin adora uma breguice e transforma tudo em momentos melosos e românticos. O problema é que as frases são irresistíveis, os personagens cativam e, de repente, nos pegamos torcendo para que tudo de certo e até mesmo acreditamos que o jornalismo pode sobreviver. Muitos críticos se pegaram chorando (por várias razões). Foi minha série preferida (não consegui ver a temporada de Breaking Bad).
ELEFANTE BRANCO
O argentino do ano. E agora, não contentes e fazer belos filmes sobre a classe média, estão atuando também na nossa seara: a pobreza. Aqui, temos a visão de fora do universo da maior favela de Buenos Aires. Filme fortíssimo de Pablo Trapero. Com qualidades técnicas invejáveis (assombrosos travellings pela miséria) e um final meio chatinho. Mesmo assim, chocante.
KILLER JOE
Deve estrear em breve. Um pesadelo angustiante e insuportável de William Friedkin. Um teatro do absurdo, com um texto que mistura Nelson Rodrigues com Datena. Terrível. Há cenas antológicas (a chupada na coxa de frango, por exemplo) que carregam tanto no drama quanto no patético. Filme bem esquisito e fascinante.
TARANTINO
Abaixo, entrevista de Tarantino para Howard Stern. Um bom jeito de comemorar a sobrevivência do cinema.

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