Numa fila, escuto três jovens comentando sobre Oz – Mágico e Poderoso. Eles viram o mais novo filme dos estúdios Disney. Quer dizer, o único garoto do grupo (com uma camiseta do Mickey) dormiu no cinema. As duas meninas (uns 18 anos?) estão divididas. Uma (que também veste uma estampa com personagem Disney) “esperava que fosse mais infantil”, então acabou gostando dos trechos “para os adultos”. A outra retruca exatamente com a opinião oposta: achava que era uma obra mais complexa, mas acabou encontrando “só coisa pra criança”.
Nem mágico nem poderoso, Oz sofre disso mesmo que a molecada tentava decifrar na fila. Um híbrido dos mais esquisitos, com partes distintas que simplesmente não conseguem se colar umas nas outras.
Muitas vezes, se torna pura confusão, como Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton; em outras, consegue cativar pelo tom fantástico e tranquilo oferecido pelo diretor Sam Raimi (que por segundos consegue ser o mesmo cara de Homem-Aranha e A Morte do Demônio).
Mas o problema dessa cisão está na cara. Não é nem um filme para as crianças, mas com fortes subtextos para os adultos (pegue qualquer um da Pixar e você vai entender); nem uma animação da Dreamworks, por exemplo, com capacidade de falar de temas difíceis com uma ironia tipicamente adolescente.
Brincar na terra de Oz é sonho antigo da Disney. O estúdio jamais se conformou em ter perdido os direitos do livro original de Frank Baum, que ficou com a MGM – que lançou em 1939 o clássico O Mágico de Oz, narrando as aventuras de Dorothy pela estrada de tijolinhos amarelos.
Hoje, o título é da Warner e há uma guerra jurídica em andamento. Sem poder brincar com o filme de 1939, a turma do Mickey está mexendo com as outras 13 histórias que Baum escreveu, inclusive essa “prequel” que mostra como o mágico picareta Oscar Diggs vira o bambambã da terra encantada de Oz.
A premissa sim é poderosa. James Franco leva seu ar aparvalhado e chapado para o mágico Oscar, que se apresenta num circo em Kansas. Nesse prólogo em preto e branco e com a tela menor, conhecemos toda a fragilidade emocional desse sujeito com sonho de grandeza, mas de atitudes mesquinhas – principalmente em relação às mulheres.
Depois de um emocionante quiproquó, também temos magia, quando Oscar acaba girando num tornado.
Até aí, tudo funciona divinamente (ok, “homenageando” o filme de 1939). Porém, quando James Franco paira pela terra encantada e a cor surge, danou-se.
Não há mais invenção, o tom de James Franco é terrivelmente triste – numa história que começa a pedir cada vez mais energia e vibração – e o trio de bruxas é constrangedor (mais por causa das personagens e menos pelas atrizes).
E o que dizer dos companheiros de jornada? Um macaco-voador nada esperto e uma garotinha de porcelana frágil? Hummm, fraco.
Para quem tinha Homem de Lata, Leão Covarde e Espantalho, essa turma nova é no máximo um quebra-galho.
Mas a questão fundamental é descobrir se as pessoas que fazem um projeto desses não sabem que podem estar cometendo erros cruciais.
Até porque 80% dos críticos comentaram sobre as mesmas coisas, ou seja, há um consenso ao revelar os problemas de Oz.
Bem, a resposta é sim. Tanto os executivos da Disney quanto o Sam Raimi e até a Mila Kunis e a Rachel Weisz sabem que o filme tem algo de errado (e sabiam desde que rodaram as cenas).
É mais ou menos como a história do mensalão. Fica difícil acreditar que certas pessoas envolvidas tão diretamente no processo não percebam que algo de errado está acontecendo. Pessoas inteligente, ainda por cima.
Todos nós que já temos alguma experiência em narrar histórias audiovisuais sabemos quando algo não funciona. Em alguns casos, tentamos consertar (porque temos tempo e dinheiro). Em outros, só dá para torcer para que ninguém note (porque não temos tempo nem dinheiro).
Podem ter certeza que Raimi e os chefões entendem bem que há alguma coisa que não funciona plenamente em Oz. Exemplos: o mágico chega duas vezes em Oz, causando confusão na história; toda o drama dele com as mulheres (em especial com Mila Kunis) não tem emoção para os adultos e é sem sentido para as crianças; os efeitos especiais com a garotinha de porcelana são bem estranhos; a briga entre as bruxas é mal explicada etc.
Pelo menos temos aquele prólogo e Michelle Williams.
De qualquer maneira, olhar para os problemas de Oz é uma lição bem útil para todos aqueles que escrevem narrativas. Aprender com os erros ainda é uma boa aula.
PTA
Abaixo, alguém que sempre consegue imagens poderosas, mesmo quando o filme é esquisitão – como O Mestre. O diretor Paul Thomas Anderson continua mandando ver na magia cinematográfica com planos como esses:


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