Estamos de volta ao inferno de Don Draper.
Com o começo da sexta temporada de Mad Men, Matthew Weiner, criador da série, mostra que é um dos roteiristas mais competentes e conscientes da TV. O careca sabe controlar seus personagens e ir até o fim de uma proposta – vale dar uma espiada nessa entrevista ao NY Times.
A última temporada foi terrível – no melhor sentido. Don Draper percebeu que jamais ficará satisfeito com sua nova vida. Ele é o homem que morreu uma vez e, renascido, também não encontra a paz. Quantas existências ele terá que enfrentar para ter algum conforto emocional?
É o homem certo para tempos incertos. Após se dar bem com a bonança dos anos 50 e começo dos 60, ele mergulha agora no caos da juventude do final dos 60. Tempo de transformações e mudanças. Mas de novo? Don Draper não aguenta mais trocar de identidade e prazeres.
Desde a primeira cena de Mad Men, Jon Hamm se revelou o rosto perfeito para essa interessante dicotomia que Weiner inventou: um publicitário em crise. Como alguém responsável por ser a imagem da perfeição e da segurança pode se tornar um poço de dúvidas?
Pois é isso que a série traz, essa complexidade entre imagem e fundo, esse diálogo entre o que está na superfície e toda a sujeira da escuridão.
Weiner nunca traiu nem mesmo a sua vinheta: um homem em infinita queda. Um dia, o Criador poderá nos contar todas as coisas que deve ter ouvido de produtores e anunciantes sobre suas criaturas. Com o sucesso da série (quatro Emmys de Melhor Drama seguidos), imaginem o quanto esse roteirista escutou de sugestões, dicas, palpites etc.
Afinal, quem quer ver esse buraco sem fim na TV? Estamos no meio de uma crise braba, com o mundo falido, o pessoal tentando se agarrar a alguma diversão enquanto temos tempo, e Mad Men vem com O Inferno (parte da A Divina Comédia), de Dante. Wow. E no Havaí, ainda por cima.
Seria bacana se o velho Don lesse Jean-Paul Sartre também. O existencialismo poderia ser um conforto.
Não vale a pena deitar spoilers aqui, mas minhas melhores expectativas foram preenchidas. A segunda metade da última temporada tinha anunciado muita lama pela frente. E então tivemos uma avalanche dela.
O episiódio especial de duas horas chamado The Doorway ganhou críticas positivas, atraiu o bom público de sempre (3,4 milhões de espectadores) e continuou dando o que falar em consultórios psiquiátricos (aqui uns pitacos de um doutor).
Pra complicar um pouco, Weiner escreveu um prólogo dos mais intrigantes, feito um imenso flashback no Havaí – não à toa a turma já começou a dizer que Mad Men virou Lost.
Há alguns momentos memoráveis, principalmente com a volta triunfal de Peggy Olson (Elizabeth Moss, a clone de saias de Don Draper).
E o que dizer da participação de Linda Cardelini como Sylvia? Roger (John Slaterry) também conseguiu chamar a atenção com – finalmente – sua constatação que também está caindo. Na verdade, quem não está caindo em Mad Men? Na última temporada, devem colocar todo mundo na vinheta.
Talvez você ache que a melhor coisa dessa estreia tenha sido mesmo Megan (Jessica Pare) de biquíni (como concordaria um dos personagens depois de tragar um belo cigarro de maconha).
De fato, é uma boa visão enquanto acompanhamos mais uma morte de Don Draper.


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