Oblivion já é um dos filmes WTF do ano – mas na categoria ruim. Escrevi aqui sobre roteiros WTF (what the fuck, algo como “que porra é essa?”). Na época, a ideia era elogiar a esquisitice da animação Rango.
Só que agora descubro que a sigla guarda também o gêmeo mau, o lado perverso. Podemos ver uma obra WTF e isso ser imensamente agradável – pegue aí Império dos Sonhos, do David Lynch, e conte quantas vezes você dirá WTF com gosto.
Outras vezes, o WTF sai sangrando de nossas bocas. Deixamos de lado qualquer prazer e murmuramos o WTF com quase ódio.
O mais recente filme de Tom Cruise, o citado Oblivion, é um desses casos extremos nos quais não consigo encontrar um único sentido para defender a existência da obra – na verdade tem um: a presença de Andrea Riseborough, como lembrou Anthony Lane na New Yorker.
Baseado numa graphic novel não publicada (e isto não serviu de alerta) do diretor Joseph Kosinski (Tron: Legacy), o longa foi roteirizado por Karl Gajdusek e Michael DeBruyn. Seria interessante – até mesmo de utilidade pública – divulgarem as sessões de discussão sobre as ideias dessa ficção científica passada no ano de 2077.
Será que o pessoal sabe a diferença entre plágio, homenagem e inspiração?
Não quero dizer que acredito na originalidade para uma obra de arte ser considerada relevante. Reli o artigo de Jonathan Lethem sobre o êxtase da influência (mais aqui) e posso dizer que sou bem simpático a tudo que abarque referências e inteligência.
Gosto da curiosidade, da cultura, de citações de diferentes áreas – desconfio de especialistas num único ramo das artes.
Mas o que fizeram em Oblivion é um disparate. A gente se sente um tanto trouxa. Bom, pelo menos não é em 3D. Aquela baboseira toda seria insuportável com óculos embaçado.
Tom Cruise interpreta Jack Harper (o nome já parece copiado de algum lugar), um faz-tudo que vive na Terra pós-apocalipse. Ele é uma espécie de Wall-E cinquentão e turbinado. O planeta entrou em guerra com alienígenas (chato, eu sei) e ganhou a parada. Mas o conflito acabou destruindo a vida por aqui. Mesmo com todo esse perrengue, explosões de bombas atômicas etc., ainda deu tempo de construírem uma nave gigantesca capaz de transportar os sobreviventes para outro canto do universo (uma lua de Saturno).
Harper e sua parceira Victoria (a interessante Andrea Riseborough, vale repetir) foram os únicos que ficaram na Terra. Eles cuidam das imensas usinas instaladas num dos oceanos. São elas que sugam o resto de energia do planeta e alimentam de combustível a super nave.
Os dois funcionários precisam garantir a segurança desses trecos, pois ainda há alguns alienígenas dando sopa por aí e prontos para sabotar os planos dos terráqueos. São uns rebeldes chatinhos que costumam ser mortos por drones (a coisa mais legal do filme, com um estupendo trabalho de som).
Eu não sei o que você pensaria se eu tentasse te convencer a produzir um filme com essa premissa.
O problema é que absolutamente nada é original ou refeito de uma forma interessante. Passamos todo o filme elencando as referências, o que prejudica nosso entendimento da trama (que fica tão estúpida que faz Duna parecer um conto clássico simplista).
Não há nenhuma alma dentro da casca. Nada. O que Oblivion quer nos dizer? Pra mim, sofre do efeito Inception, essa desgraça capaz de revestir de seriedade um monte de besteira.
Pelo menos o filme de Nolan ainda buscava com bastante garra um pedaço de encantamento.
Mas Oblivion é preguiçoso. Escarra na nossa fuça linhas de Wall-E, O Planeta dos Macacos, 2001 – Uma Odisséia no Espaço, Matrix e comecei até ver Mad Max, tamanha a minha irritação. WTF? – mais referências nessa crítica de Peter Travers.
E até que a gente fica animado no início, mais lento, bem fotografado (por Claudio Miranda, o mesmo de A Vida de Pi), só que é difícil manter a boa vontade com tantos clichês.
Se a gente colocasse diferentes filmes num computador e pedisse para ele misturar tudo e fazer alguma coisa nova, a possibilidade de sair Oblivion seria grande (uns 60%, eu calculo).
Não há uma passagem com frescor, capaz de nos surpreender, de nos fazer dizer um WTF com gosto.
Essas banalidades não nos levam para lugar algum.
Na verdade, elas dão medo porque provam que qualquer alienígena bobão poderia enganar a humanidade que gasta US$ 120 milhões nisso (ah, já arrecadou US$ 150 milhões).
