Só agora, depois das bombas em Boston, vi Jack Reacher, dirigido e escrito por Christopher McQuarrie. Baseado em livro de Lee Child (lançado por aqui como O Último Tiro), o filme apresenta algumas situações bem interessantes, que merecem uma revisão (não foi bem aceito na sua estreia há alguns meses).
Tom Cruise interpreta um ex-militar que é uma espécie de caubói solitário, sem endereço nem destino, que vaga fazendo justiça – a própria, que por coincidência parece ser a mais correta. Ele aparece em Pittsburgh para ajudar a advogada de defesa de um sujeito acusado de matar cinco pessoas aleatoriamente.
Como no caso de Boston, as motivações do assassino começam a se revelar turvas e complexas, abrindo espaço para bastante paranoia, corrupção e imigrantes esquisitos.
Jack Reacher já protagoniza uma série de livros e parece ser um herói propício para os tempos atuais. Não tem nada do glamour de um James Bond. Seu lance é uma mistura da insanidade cruel de Jack Bauer com o jeitão lost do agente Bourne.
O cara surge como um doido varrido do bem, casando com os anseios de uma sociedade louca para meter o dedo no gatilho e eliminar o inimigo – e sem muita vontade de esperar soluções do Estado.
O longa coloca algumas questões assustadoras e também consegue engrenar uma cativante atmosfera de filme B, com sua premissa meio nas coxas.
Não há grandes destruições, o mocinho nem detona tanta gente assim e o mundo não corre o risco de ser destruído. Mas aí é que mora o perigo. Jack Reacher começa da forma mais prosaica e desinteressada, com dez minutos sem nenhum diálogo, pouca música e meia dúzia de tiros num parque à beira de um rio.
Um início promissor e empolgante, com uma narrativa precisa, capaz de estabelecer muito bem os espaços da trama (Pittsburgh se mostra uma cidade muito fotogênica) e jogar o espectador no terror – qualquer um poderia ser alvejado.
Há outras duas excelentes sequências: uma corrida pelas ruas da cidade, com carros envenenados e sirenes policiais, quase dez minutos sem música e com um delicioso final cômico; e todo o cerco final na pedreira.
Tom Cruise leva com certo enfadado seu personagem, mas isso serve para algum alívio na tensão do enredo. Há um bom equilíbrio entre diálogos e imagens para as explicações da história (que é complexa, mas coerente) e certas falas realmente causam graça – afinal, estão lá pra isso.
Além disso, o elenco de coadjuvantes é de arrepiar. Um time com Richard Jenkins, Robert Duvall e Rosamund Pike não é de perder tempo. Para fechar, temos a presença de Werner Herzog como a face – literalmente – do mal e carregando no seu lado canastrão.
Vale dar uma chance pra esse cara.

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