A temporada de verão está um terror na América. Os blockbusters naufragam de forma apoteótica (mais aqui). Spielberg e George Lucas já saíram por aí falando que o cinema vai ter que mudar para enfrentar os novos tempos. Hollywood está arrancando os letreiros. Pior que os longas (longuíssimos agora, com esse novo sistema de fazer obras com mais de duas horas) não alcançam bons resultados porque são simplesmente… ruins. Os executivos não conseguem nem mesmo culpar a crise, o péssimo gosto do público etc. A turma da grana tem que engolir o prejuízo e olhar para o próprio umbigo. Hora de repensar tudo.
No meio do caos, temos as animações, esses pequenos paraísos que proporcionam algum conforto para nós e bastante caixa para as produtoras.
Universidade Monstros, o 14º longa da Pixar, está dando um lucro danado. É uma prequel do fabuloso Monstros S.A. (2001), ou seja, aqui acompanhamos a vida universitária de Mike Wazowski e James P. Sullivan, os dois simpáticos monstrengos que vão se tornar melhores amigos e confidentes quando se tornarem adultos.
Dirigido por Dan Scanlon (escrito por ele e mais Daniel Gerson e Robert L. Baird), o filme é uma sátira ao gênero “college movies”, obras que se passam nos campi de universidades. A premissa é interessante, pois o que pode assustar os “assustadores”? Nas nossas vidas, poucos momentos são tão intensos – e cheios de tensão – do que os anos de faculdade.
Professores medonhos, provas impossíveis, eventos esportivos massacrantes, vida social intensa, paixões avassaladoras, temos diversos elementos capazes de deixar nossa rotina eternamente conflituosa.
Esse período tanto pode virar O Clube dos Cafajestes, a grande comédia de John Landis de 1978, como um sombrio pesadelo que deu origem ao Facebook – como retratou o roteiro de Aaron Sorkin em A Rede Social.
Universidade Monstros fica no meio disso. Há bastante humor pela inadequação de seus personagens em um ambiente hostil; mas também muito drama, pois o que está em jogo é a passagem para a vida adulta e a compreensão de dilemas complexos.
Talvez não por acaso, o filme anterior da Pixar, Brave, trazia uma heroína (a primeira do grupo). Agora, os meninos dominam todas as sequências de Universidade Monstros. Não há espaço para as garotas.
O longa se destaca pela exuberante técnica visual em 3D. Como temos um ambiente limitado (um campus, onde se passa quase toda a ação) e outro conhecido (a fábrica de sustos), os desenhistas conseguiram tempo para produzir detalhes fascinantes e realistas. Cada grama parece no lugar certo; você percebe o esmero na criação de uma infinita riqueza de cores e formas.
Eu fiquei mais para Manohla Dargis do que para Matt Zoller Seitz dessa vez. Sempre esperamos sair modificados de um filme da Pixar, colocando novos personagens no nosso panteão, elencando quais as melhores e maiores surpresas e cenas. Universidade Monstros não colabora muito com esses sentimentos. Os coadjuvantes da Oozma Kappa, a fraternidade de Mike e Sully, são simpáticos, mas não deslumbrantes. Partem da obviedade e pouco conseguem sair dela. A própria história é bem demarcada, fácil de acompanhar, mas não surpreendente (na realidade, um dos truques para dar uma das viradas é até meio esquisito).
Com tudo isso, é sempre um prazer visitar a Pixar. É como aquele seu bar preferido, que pode um dia errar a mão na temperatura do chope, mas que se dane. Tá tudo no lugar certo. E, pensando agora, acho que o filme deve crescer muito na revisão, pois está lotado de sutilezas.
Infelizmente, aqui no Brasil ficamos na mão das distribuidoras que cada vez menos se dedicam a deixar cópias legendadas em horários decentes. É impressão minha ou as opções de animações legendadas têm diminuído muito? Ainda mais agora, quando parece que os blockbusters que prestam são os animados?
Na sessão em que vi Universidade Monstros – dublado -, metade da sala era ocupada por casais de adultos (sem crianças).
Será que essa estratégia não tem afastado um pouco os marmanjos sem filhos?
A mesma coisa acontece com o divertido Meu Malvado Favorito 2. É impossível assistir a uma versão legendada (creio que está em apenas um horário em dois cinemas). O caso é ainda mais grave porque fica difícil imitar o sotaque de Steve Carell, que interpreta o ex-vilão Gru – e mais ainda a voz de Eduardo (Benjamin Bratt), o El Macho chicano.
Menos mal que as melhores coisas da série, os gremlins amarelinhos minions, não carecem de dublagem, pois apenas balbuciam coisas engraçadíssimas.
Dirigida por Pierre Coffin e Chris Renaudo (escrita por Ken Daurio e Cinco Paul), a continuação parece não inventar nada. Porém, entrega meia dúzia de sequências com os minions que valem por todas as comédias nacionais dos últimos dez anos.
Só não entendo por que o filme se anuncia como um longa de espionagem, com passagens mirabolantes por diversos lugares, mas acaba ficando preso num shopping e numa história de amor um pouco decepcionante.
Dane-se. Sucesso absoluto, custou US$ 76 milhões e já rendeu o dobro.
Ainda bem que temos as animações.


Deixe um comentário