E a era de ouro continua

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Ok, a TV norte-americana vive uma era de ouro, mas agora estão abusando. Como se não bastassem os perturbados showrunners de séries originais (como Mad Men e Breaking Bad – mais aqui), agora temos que conviver com as boas adaptações do material escandinavo e arranjar tempo para acompanhar o que o Netflix vem colocando no mercado.

O site acaba de jogar no ar a primeira temporada de Orange Is the New Black, uma dramédia criada por Jenji Kohan (Weeds) a partir das memórias de Piper Kernan, uma garota com toques de hipsterismo que vai para a cadeia por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.

Já o FX lançou o drama The Bridge, adaptação de Bron, série policial nórdica. A ação da história original se passa na fronteira entre a Dinamarca e a Suécia. Na versão norte-americana, a encrenca acontece na divisa entre os EUA e o México.

Todos são ótimos. Com Orange Is the New Black, podemos ter uma relação de dependência bem pesada, que pode causar overdose, afinal o Netflix disponibiliza tudo de uma cacetada só. Mas conferindo apenas os dois primeiros episódios, arrisco que eles acertaram mais uma vez.

Não tão hypada quanto as antecessoras do canal – House of Cards e a nova temporada de Arrested Development -, a empreitada de Jenji Kohan tem a seu favor um fascinante elenco de personagens femininos. Não deixa de ser um chamariz dos mais interessantes, pois os homens têm protagonizado a maioria dos incensados dramas dos últimos anos (exceção para Homeland, com a problemática Carrie de Claire Danes).

Orange… fala da rotina de uma prisão feminina (gênero já bastante explorado pelo cinema) e as complicações e conflitos da vida atrás das grades. Mas não só. O mais interessante da série é seu formato. Estruturado com flashbacks, conseguimos explorar em cada episódio as nuances da protagonista e também conhecemos “a vida lá fora” de diversos outros personagens.

É como assistir a um Lost só com meninas. Todas estão ali confinadas por algum motivo. E é delicioso descobrir como aquelas existências se encontram.

Há bastante ritmo, uma atuação convincente de Taylor Schilling como a mocinha ingênua e muitas piadas – que se não funcionam plenamente, conseguem manter um discreto tom de humor.

Desde a bonita abertura com canção de Regina Spektor (imaginar que aqui nosso principal produto de dramaturgia abre com aquele rascunho e a voz de Daniel) até cenas ousadas – porém sempre elegantes – de nudez e violência, Orange… exibe uma estrutura bem sedimentada e coerente.

The Bridge também exibe uma arquitetura muito firme e cativante – ainda não consegui ver o original escandinavo. A locação não poderia ser mais sugestiva e pertinente: de um lado a cidade norte-americana de El Paso com a detetive Sonya Cross (Diane Kruger); do outro, Juaréz, município mexicano que abriga o trabalho do policial Marco Ruiz (Demián Bichir).

A premissa é sensacional: um corpo é encontrado na divisa entre os países. Só que a morta não é “apenas uma pessoa”. Não vale dizer mais para não estragar os primeiros quinze minutos da série – aquele fatídico momento em que decidimos se vamos ou não acompanhar essa história.

Meredith Stiehm, criadora de Cold Case e roteirista de Homeland, é a responsável pela adaptação e já marcou um golaço logo de cara. A encomenda era colocar a ação em outra fronteira, na ponte que liga Detroit (EUA) e Windsor (Canadá). Seria como contar a história do envolvimento entre dois irmão gêmeos com personalidades meio parecidas. Agora, The Bridge narra o que acontece quando dois desconhecidos – e até inimigos – são obrigados a conviver.

Aos poucos, os crimes perdem o impacto e o que queremos ver mesmo é a intensidade do choque que esses personagens vão sofrer ao ter que atravessar a ponte.

É como se retirassem os guardas da fronteira e mexicanos e norte-americanos habitassem um único puxadinho.

Por enquanto, a série não apostou muito na sutileza. Bem dirigido por Gerardo Naranjo, o piloto explorou os clichês de ambos os lados da divisa. Os mexicanos são corruptos, matam sem nem saber o nome das pessoas e vivem jogando baralho com narcotraficantes. Os norte-americanos são mais paternais, respeitam a hierarquia e querem descobrir por que o mundo é tão mau.

Mas as extraordinárias locações e o ritmo tranquilo deixam tudo correr suavemente e a gente acaba relevando um ou outro exagero.

Demián Bichir é um baita ator. Em dois segundos somos cativados pela sua presença fraternal. Já Diane Kruger ainda é uma incógnita, pois tem que fazer uma detetive com síndrome de Aspergir, com dificuldades de demonstrar emoções – então, claro, a gente também fica com pé atrás no início.

Mais uma pipetas para a era de ouro da TV.

*

Também em julho o Comedy Central estreou Drunk History, comédia adaptada do quadro de mesmo nome que sempre foi um sucesso no site Funny or Die. Trata-se de um formato no mínimo curioso. Um comediante é convidado para encher a cara e depois contar um fato histórico – que é dramatizado por atores consagrados.

O primeiro episódio da série mostrou histórias que se passaram em Washington, como o Watergate.

O quadro existe desde 2007. Um dos mais famosos é o que eu coloco abaixo, em que Will Ferrell interpreta Abraham Lincoln.

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