Minha série favorita não é a melhor – mas uma das melhores. The Newsroom, de Aaron Sorkin, está na sua segunda temporada e segue como um dos dramas televisivos mais detestados da América. A turma simplesmente não tem saco para os infinitos – e sempre afiadíssimos – diálogos entre o âncora Will McAvoy (Jeff Daniels) e sua equipe.
A nova fase até ganhou alguns elogios, pois os personagens parecem mais falíveis e complexos, os produtores trocaram a vinheta de abertura e Sorkin estabeleceu uma espécie de suspense, fazendo da temporada um imenso flashback – aos poucos, vamos descobrir por que os jornalistas estão no buraco.
Mas qual é o encanto de The Newsroom? Alguns pensamentos rápidos:
• Há sempre um lado pessoal no nosso amor por uma série específica. Muitas vezes, não temos como defender essa paixão com argumentos racionais. Tem gente que vai jurar que Dexter é mil vezes melhor do que Breaking Bad – ou que nunca houve algo tão fantástico quanto Gilmore Girls. E por quê? “Porque sim, caramba. Porque eu me importo com esses personagens, porque eles significam algo pra mim. E que se dane”, deve ser a resposta padrão. Em primeiro lugar, gosto de The Newsroom porque eu sempre quis ser um jornalista decente (falhei miseravelmente). E Aaron Sorkin me entrega isso.
• Na verdade, eu sempre quis ser um jornalista decente trabalhando em Nova Iorque, capaz de tomar uma dose de uísque às 12h num piano-bar e ser rodeado pela Emily Mortimer, Alison Pill e a Olivia Munn. E Aaron Sorkin me entrega isso.
• O fato da série acontecer no passado recente é genial. Assim, conseguimos observar os eventos históricos com um olhar distanciado, mas ainda quente. Nessa loucura que vivemos hoje, pulando de um assunto para outro sem registrar muita coisa, é bem-vinda essa sensação de recapitular nosso tempo injetando um pouco de drama, romance e bastidores. Às vezes, ao ver The Newsroom, parece que estou lendo um artigo do Timothy Garton Ash, tamanho cuidado com os eventos, nomes e situações – e aquele sabor literário. A série não deixa de ser um tratado sobre a memória e a história.
• Falando sobre o fim de um certo tipo de jornalismo – que parece realmente só existir no reino encantado da ACN -, Sorkin debate como a informação é passada hoje e quais as implicações desse novo sistema de comunicação (a internet) no nosso cotidiano. Golaço. Faz algo que aqui mesmo, nos nossos cadernos jornalísticos, não conseguimos encontrar.
• Obviamente todo esse painel informativo e relevante socialmente não significaria nada sem a identificação que temos pelos personagens. Will McAvoy é mais um desses homens complicados que têm dominado a dramaturgia da TV norte-americana. Ele é arrogante, agressivo, republicano e bem mala. Mas é o Jeff Daniels e até hoje está com o coração em frangalhos por causa de Emily Mortimer (também, quem não ficaria?). Complexo, irônico e inteligente, um ótimo protagonista.
• Não vale a pena mencionar a qualidade dos diálogos de Sorkin, mesmo assim lá vai: a qualidade dos diálogos de Sorkin.
• A maioria dos críticos desce a lenha no triângulo amoroso entre Jim Harper (John Gallangher Jr.), Margaret Jordan (Alison Pill) e Don Keefer (Thomas Sadoski). Ok, às vezes eles são bem pentelhos mesmo. Mas não consigo ficar bravo com a Alison Pill.
• A direção é sempre muito elegante, com incríveis travellings em espaços fechados e uma condução crível sobre os bastidores de um noticiário (é muito, muito difícil interpretar jornalistas – tanto que nunca vi nada minimamente razoável na nossa produção audiovisual).
• Se nada disso te convencer, há a magnífica interpretação de Charlie Skinner como Sam Waterson. Que ator. Daqueles de assistir cada cena de joelhos.
• Sem contar as idiossincrasias de Sorkin, claro. Ele interrompe a narrativa só para fazer uma cena em que alguém cita as letras de musicais da Broadway.
• No fim, ficamos contaminados pelo texto abusado, exagerado, romântico e arrogante de Sorkin. The Newsroom é bom porque… eu gosto. Como explicar isso?

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