Talvez advogados criminais sejam os profissionais mais próximos dos roteiristas. Eles precisam construir uma história crível, com personagens deslumbrantes, capazes de nos convencerem de que a narrativa deles é a correta.
Vejam Tese Sobre Um Homicídio, filme argentino de Hernán Goldfrid. Temos Roberto (Ricardo Darín), professor de direito penal, que numa noite vê sua aula ser interrompida por causa de um assassinato no estacionamento da faculdade. Ele tem certeza que o autor do crime foi Gonzalo (Alberto Amman), seu aluno, discípulo e rival.
A partir daí, o mestre precisa entrar no jogo da criação, correr atrás de peças que transformem sua hipótese em fato. Roberto deve compreender os motivos do criminoso, investigar a vida dele, encontrar cenas e objetos que tornem tudo factível aos olhos do júri/platéia/espectadores.
Um furo no roteiro, uma atitude inexplicável, uma sequência fora do lugar, uma palavra dita na hora errada, qualquer detalhe pode fazer com que o professor perca a coerência de sua tese – e a paciência do público.
Mas não é assim com quem escreve? Ficamos ali batalhando pistas, organizando esquemas, buscando maneiras de dar coerência para um mundo que só existe na nossa cabeça. Tentamos convencer um júri de que nossas ideias são possíveis e interessantes.
As aulas de Roberto são boas dicas para armar um roteiro.
Por isso a literatura policial é um excelente apoio para roteiristas. Ali estão tanto os advogados, cada um querendo mostrar qual é a melhor história (ou a “mais válida”), e também os criminosos, montando um infinito quebra-cabeça.
Tese Sobre Um Homicídio tem um final perturbador – pelo que não resolve, e não pelo que finaliza. Ricardo Darín é o Ricardo Darín, e isso basta. Calu Rivero, que interpreta Laura, é belíssima, mas um tanto capenga no drama. O roteiro de Patricio Vega consegue segurar o suspense e fornece pistas intrigantes. A direção é elegante, aliando bons diálogos com a paisagem turística de Buenos Aires (Malba, Fuerza Bruta, a Faculdade de Direito).
Um longa agradável, que vira obra-prima ao lado da atual safra de falidos blockbusters. Uma fase terrível ronda Hollywood.
Não só pelas péssimas bilheterias de algumas de suas apostas, mas também pela qualidade dos filmes de ação.
Até agora, todos foram decepcionantes. O último a estrear por aqui, Wolverine Imortal, de James Mangold, ainda tem um começo interessante (mais por uma questão pessoal, gosto de cenas com bombas atômicas) e sempre é salutar acompanhar aventuras no Japão (de qualquer época).
As lutas de espadas caem bem num tempo em que tudo se resolve com um balaço. Há também bastante humor com o choque cultural entre o homem com garras de aço e a moçada da Yakuza.
Mas é pouco. O roteiro de Mark Bomback e Scott Frank força a barra para colocar seus personagens em perigo. Nada convence, tudo é raso até se tornar irritante. Um sujeito terrível pode fazer uma boa ação apenas porque a cena precisa disso. Chato mesmo.
Mas nada é pior do que esse lance de herói imortal. Temos muitos deles por aí. Hoje ninguém mais morre porque precisamos de franquias que durem três, quatro continuações. Sabemos que todos esses caras não correm perigo, que nada vai mudar (um pouco sobre isso aqui, numa boa explicação sobre o fim das comédias físicas).
Mas por que estamos falando disso? Ah, sim, por causa dos advogados. O Wolverine talvez precisasse de um, para colocar um pouco de convencimento e ingredientes saborosos nas suas histórias.
A tese do momento lá na América é que os executivos perderam a mão. Na tentativa de agradar o mercado estrangeiro, baixaram a bola de seus filmes, causando tremendo estrago nos roteiros. Até quando eles aguentam?

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