Daqui pra frente, o anti-herói que vai dominar o noticiário será Walter White, o professor de química e trafica da excepcional série Breaking Bad, de Vince Gilligan.
Com a exibição da última parte da última temporada (a quinta), teremos dois meses para nos despedirmos desse fascinante sociopata.
Se, como dizem os manuais, série de TV é personagem (assim como cinema é história), Breaking Bad então tem tudo pra se tornar um dos melhores programas de todos os tempos (marco dos últimos 15 anos, na chamada Terceira Era de Ouro, ela já é).
Dá pra falar de tudo. Tem gente que acha o conceito geral uma palhaçada, pois jamais seria capaz de torcer para um doido que envenena crianças; outros fazem tatuagem no peito com a face de Heisenberg (codinome de WW) e seu indefectível chapéu preto; uma turma morre de amores por Jesse Pinkman e não vê a hora de estourar champanhe com a morte do vilão (que também é o mocinho, vamos dizer assim); e a coisa segue.
A série não apenas conseguiu se estruturar em cima de um imenso personagem shakespeariano, como criou incontáveis imagens marcantes, que viraram símbolo de qualidade na TV (é possível comprar camisetas com mais de cem estampas diferentes que se relacionam com a série).
Como a gente não consegue desgrudar os olhos do semblante de Bryan Cranston, às vezes esquecemos de como Breaking Bad foi excepcionalmente bem dirigida. Ainda acho que ela tem talvez o melhor bottle episode da história (The Fly) e, certamente, um dos finais de temporada mais angustiantes e surpreendentes que já vi (o da quarta).
E os coadjuvantes? Gus Fring, Mike e o fanfarrão Saul são criações fenomenais.
Melhor do que escrever, é ler o que os críticos de TV nos EUA têm falado por esses dias. Infelizmente, em português continuamos a produzir um material raso, banal, risível. Mas em inglês, o bicho pega. Separei alguns:
• Todd VanDerWerff comenta no The A.V. Club as características que fazem de WW o tipo shakespeariano por excelência.
• Esse é um dos meus favoritos: A.O. Scott disseca os anti-heróis da nossa era (WW, Don Draper e Tony Soprano) e nos lembra que WW sempre foi um sujeito problemático e violento, a gente é que não quis ver assim apenas para gostar um pouco daquele maluco.
• Rachel Syme, no blog da New Yorker, transita por Albuquerque, no Novo México, a cidade-fantasma de Breaking Bad.
• Na Poetry Fundation, Kera Bolonik explica por que o show é fascinado pelo poeta Walt Whitman (aliás, que cena aquela em que Rank descobre o mundo como ele é enquanto faz o número 2).
• Judy Berman se emociona com as vilanias de WW no Flavorwire.
• Também no A.V. Club, Donna Bowman dá dicas de como assistir aos episódios.
E vem muito mais por aí. O cara merece.

Deixe um comentário