Concordo com o crítico Matt Zoller Seitz: se eu tivesse nove anos de idade e nenhum trabalho pra fazer, assistiria ao Círculo de Fogo umas duzentas vezes.
Foi a melhor aventura do último verão norte-americano. Com muitos cavalos (ou robôs) de vantagem sobre o segundo colocado (talvez o injustiçado O Cavaleiro Solitário?). Eu deixo Guerra Mundial Z fora da competição, pois acho que ele escapa brilhantemente de ser apenas um caça moedas de verão.
Financeiramente, Hollywood se deu bem e aumentou em 10% o lucro de seus filmes na temporada passada. Porém, os blockbusters naufragaram de um jeito bem constrangedor (mais aqui).
Mereceram as pauladas. As histórias dessa vez foram fracas e ninguém trouxe novidades. A única peça mais interessante é essa briga entre robôs e monstros patrocinada e dirigida por Guillermo del Toro (escrita por ele e Travis Beacham).
A brincadeira custou $330 milhões e rendeu $400 milhões em todo o mundo. Bem abaixo da expectativa, mas pelo menos se pagou e recebeu uns trocados.
Pois bem, se fosse necessário indicar apenas um longa para que alguém entendesse o que foi a temporada passada, aqui está Círculo de Fogo.
Assim como Homem de Ferro 3, ele mostra heróis dentro de empolgantes latarias. A vantagem é que no filme de Del Toro os robôs são gigantescos e mais gente pode dirigir o maquinário – não ficamos reféns do Tony Stark.
Chamados de Jaegers, os monstrengos foram construídos para proteger a Terra, que está sendo constantemente invadida por criaturas alienígenas.
Assim como em O Homem de Aço, o mal vem de outro planeta. A vantagem é que no filme de Del Toro as feras emergem do fundo do mar, a partir de uma misteriosa – e hilária – fenda no Pacífico. Muito melhor do que acompanhar de novo todo aquele papo de Krypton etc.
Os bichos não são feitos nossa imagem e semelhança, mas sim lembram os saudosos Godzillas (tanto no tamanho como na ferocidade). Nomeados como Kaijus, encantam os publicitários e marqueteiros, que passam a explorar comercialmente a fatalidade.
Assim como em Wolverine, o oriente domina a trama. A vantagem é que no filme de Del Toro a história de amor entre o mocinho ocidental (o piloto Raleigh Becket) e a garota fã de artes marciais (a bonita Rinko Kikuchi) é bem conduzida, com reviravoltas interessantes e cenas de ação surpreendentes.
O que acontece é o seguinte: os Jaegers estão ficando obsoletos porque os Kaijus começaram a crescer demais e passaram a usar estratégias complexas. Numa última cartada, o mocinho e a mocinha terão que se unir para provar a força e inteligência humanas.
Imaginem sequências de briga do UFC, mas em Hong Kong e com lutadores gigantes. Legal, né? Grande parte de Círculo de Fogo é isso. Mas cada luta promove um herói diferente, uma estratégia bacana e novos ângulos. Um campeonato inteiro de pancadaria em duas horas.
Claro, além disso temos bastante humor e dezenas de citações da cultura geek.
A dupla de cientistas Newton (Charlie Day) e Gottlieb (Burn Gorman) busca desesperadamente solucionar o caso da fenda sem apelar para a força bruta. Um acredita na neurociência e biologia enquanto o outro luta com estatísticas, física e matemática. Um embate atual e inteligente.
Pra fechar, que tal um mercenário fanfarrão que vende órgãos de monstros abatidos e se chama Hannibal Chau (Ron Perlman)? Aliás, Ron Perlman se mostra sempre eficiente.
Um filme cheio de boas imagens, uma sólida formatação de história e um prólogo provocativo.
Guillermo Del Toro faz diversão em estado bruto, tanto quanto George Lucas mostrou em Guerra nas Estrelas.
Como eu gostaria de ter nove anos novamente.

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