Tanto quanto os roteiristas, os atores também estão vivendo uma nova era de ouro na TV norte-americana.
Pois você pode saber que David Chase criou Os Sopranos, mas com certeza visualiza a figura do saudoso James Gandolfini como símbolo da série.
Então, pra confirmar a tese, na capinha do espetacular livro Difficult Men, de Brett Martin, temos representando todos esses estimulantes episódios de Mad Men, Breaking Bad etc., os perfis de Bryan Cranston (Walter White) e Gandolfini (Tony Soprano).
Logo mais vamos acompanhar o Emmy e, neste ano, a categoria de melhor ator dramático é realmente um drama – pelo menos para quem tem que votar.
São seis candidatos e, sinceramente, pelo menos cinco poderiam ganhar sem nenhum problema – só não falo de um deles, Hugh Bonneville, de Downton Abbey, porque nunca vi um episódio inteiro.
Começando por Damien Lewis, o parceiro de Claire Danes em Homeland. Bom, o cara tem que fingir o tempo todo que está fingindo. Lembram da Carminha, de Avenida Brasil, sendo obrigada a interpretar uma pessoa que não era? Então, Damien Lewis passa todos os episódios mentindo. Às vezes ele é um terrorista, em outros momentos um dedicado pai de família e herói nacional (o sargento Nicholas Brody), por alguns instantes vira um amante nervosinho etc. Taí um cara complicado. Sem contar que sempre deve passar aquele olhar de quem ficou anos sendo torturado.
Jeff Daniels, o âncora Will McAvoy de The Newsroom, até que enfrenta uma jornada mais fácil. É um jornalista estabelecido em Nova Iorque, famoso, com grana e uma equipe de quixotescos personagens. Tudo muito bem, se ele não tivesse que decorar as insanidades que Aaron Sorkin, criador da série, manda Will dizer – e numa velocidade digna de um Usain Bolt. Quando a gente se acostuma com a breguice e o talento da série, Jeff Daniels parece encarnar o papel da vida. Aquele episódio em que ele perde o pai… Emoção na bancada. Deveria ser visto por aquele coxinha com uma mecha branca que comanda o Jornal Nacional.
E o Jon Hamm, hein? Apesar dos flashbacks já terem indicado que o personagem dele, o publicitário Don Draper em Mad Men, é um “infiel serial”, a mulherada continua sonhando com a noite em que irão servir um uísque para o triste quarentão.
Tenho inveja da sedutora figura, óbvio, mas fico com uma dose de pena também. Como será que Jon Hamm irá reagir ao fim de sua cria? Ano que vem teremos as últimas tragadas do meninão e as viúvas de Draper já se acumulam nas calçadas da vida.
Pra embolar de vez a brincadeira, neste ano o Kevin Spacey apareceu com House of Cards e um discurso arrebatador sobre a dramaturgia das séries (abaixo).
Ele traz várias vantagens para faturar o Emmy: é a principal novidade por causa do Netflix; interpreta um político astuto e cheio de lábia; e ainda fala para a câmera, buscando a cumplicidade do público. Deve ser uma barbada. Apesar que muitos podem ter vontade de punir as vilanias do congressista Frank Underwood tirando o prêmio das mãos de Kevin.
E temos Bryan Cranston, o Walter Heisenberg White de Breaking Bad. A New Yorker publicou um perfil dele (aqui), o que pode indicar quais são de fato os favoritos nas duas categorias principais no quesito atuação (outro dia imprimiram um de Claire Danes).
Seu desempenho é tão glorioso, que talvez não precise do prêmio. Pra quê? Ratificar o que já sabemos?
Assim como Damian Lewis, Jon Hamm e Kevin Spacey, ele interpreta um mentiroso compulsivo, alguém que tem uma (ou várias) vida dupla, sempre se equilibrando entre a razão e a emoção.
Como afirma Brett Martin, são homens complicados. Mas, acima de tudo, loucos pra contar uma lorota.

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