The Newsroom pode ter seus vários defeitos, mas não dá pra dizer que o criador da série, Aaron Sorkin, é desinformado.
O sujeito se tornou a Mãe Dináh da TV norte-americana. Todo o mote da segunda temporada (que terminou dia desses, infelizmente) foi baseado num ataque de gás sarin. Esse mesmo que está levando Obama e Putin a se engalfinharem.
Só que na ficção da TV, a arma letal foi usada pelo governo dos EUA numa maluca – e bem possível – Operação Genoa. Já na vida real (para muitos, recheada de ficção), o responsável pelo crime é o governo sírio.
Ponto para Aaron Sorkin, que parecia estar discutindo o assunto do momento com mais rapidez do que os comentaristas da CNN. Eu aprendi mais sobre o gás vendo os depoimentos em The Newsroom do que nas páginas da Folha de S.Paulo.
Essa temporada também mostrou a confusão que foi o início do Occupy Wall Street. A prisão de um jornalista (o geek Neal Sampat) aconteceu na mesma semana em que no Brasil a gente registrava a pancadaria policial em cima de manifestantes (faz tempo isso, foi na época em que o gigante tinha acordado).
Foi bem esquisito observar uma série gringa dando conta de um evento brasileiro – mesmo que por tabela.
Devido ao mercado pouco auspicioso, certa lentidão dos executivos, ousadia, roteiros, diretores e sei lá mais quantos fatores, as séries nacionais parecem sempre cair num limbo de irrelevância.
Estamos alguns passos atrás de todo e qualquer assunto. Se a gente tivesse uma TV bacana, quantos episódios de ficção já não teriam sido produzidos com o tema do mensalão?
Aaron Sorkin também tinha aprontado das suas ao falar sobre espionagem na primeira temporada da sua série jornalística, levantando denúncias bem antes do caso Snowden.
Os roteiros da TV norte-americana conseguem se instalar nos temas contemporâneos de uma maneira muito firme e rápida. Até mesmo quando adaptam projetos alheios, como Homeland (originalmente israelense), conseguem morder o zeitgeist e transformar o produto em prata da casa.
Não dá pra gente ficar esperando novela do Manoel Carlos pra ver um pouco de nossas vidas refletidas na tela – o autor sempre coloca uma turma lendo O Globo. Sabemos que filmes demoram cinco anos pra sair por aqui. Então, não adianta achar que daqui a um mês teremos uma boa comédia romântica passada na avenida Paulista (ideia: médico cubano se apaixona por índio durante passeata).
Mas nem na TV? Nada? Nenhuma série capaz de revelar certas coisas sobre nosso modo de vida? Capaz de empolgar retratando um tantinho assim do que aconteceu ontem?
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Só mais um pouco e Breaking Bad vai encontrar a cova. Uma pena.
Muita gente quer saber como esse negócio vai terminar. Conheço pessoas que estão frustradas por antecipação. Segundo eles, nada pode ser bom o suficiente.
Alguns artigos interessantes que entraram na discussão:
Seitz fala sobre como terminar a série
Mesa de discussão sobre o excepcional episódio “Ozymandias” na The Atlantic

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