Oscar 2014: o ano dos intérpretes

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O saldo não poderia ser melhor para atores e atrizes. A maioria dos filmes destaca, mais do que enredos mirabolantes ou técnicas espetaculares, a força de grandes personagens.

O ano foi dos intérpretes. Abaixo, pequenos comentários sobre cada concorrente na categoria de melhor filme (em ordem de preferência).

HER

Gosto muito da estrutura narrativa deste filme do Spike Jonze. Fiel aos seus meninos solitários, ele constrói um roteiro interessantíssimo, cheio de subtextos expressivos e pertinentes. Uma obra que dedica grande afeto à palavra, mas sem perder força nas imagens (seja nos closes do magnífico Joaquin Phoenix como nos planos abertos de uma Los Angeles “xangaiana”). A maneira com que Jonze aborda a tecnologia é difusa, complexa, sem nunca propor dogmas ou soluções fáceis. A paixão do homem pela máquina acontece de forma natural, nada grotesca. Apesar de certa redundância (principalmente no terço final), merece se tornar um pequeno clássico romântico da geração Y (ou sei lá como se chama essa turma atual). E nesta época em que os filmes precisam nos entregar tudo de mão beijada, Her faz com que imaginemos o tempo todo as expressões e desenvoltura de Scarlett Johansson (que poderia concorrer a alguns prêmios, sem dúvida). Deveria levar pelo menos o de melhor roteiro original.

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO

Não concordo com parte da crítica brasileira que atacou o filme de Steve McQueen dizendo que a fita é acadêmica e burocrática. Também falaram isso de Lincoln, que é de uma beleza ímpar, com texto primoroso de Tony Kushner. Parece que há uma certa má vontade com certo tipo de filme mais clássico, vamos dizer assim. Além de toda importância social para a América, 12 Anos de Escravidão traz um impressionante trabalho estético. Toda a beleza da encenação é corroída pela dor dos escravos pretos e pela sordidez dos sinhozinhos. Esse ruído nos cala e emociona. A cena do quase enforcamento de Solomon (que trabalho de Chiwetel Ejiofor) é inesquecível. Um longo e angustiante plano, sem música, terrivelmente naturalista, mas capaz de gerar imensa poesia ao deixar o mundo continuar sua lida enquanto um homem sofre a maior das injustiças. O filme é inteiro construído em cima desses grandes momentos, como se a natureza (lindíssima, suave, silenciosa) estivesse sempre sendo agredida pela brutalidade do homem. Pode levar o de melhor filme, sem problemas.

NEBRASKA

Bonito filme de Alexander Payne, feito de silêncios e personagens rudes. A fotografia PB nos leva sempre para certa melancolia, certamente presente na vida do calado personagem interpretado com rara convicção por Bruce Dern (genial). Porém, o que brota mesmo é um  cativante humor. Por trás de toda senilidade e sofrimento de personagens aparentemente fracassados, surge muita empatia com a platéia. Eles podem estar ferrados, mas pelo menos escaparam do inferno que é aquela cidadezinha canhestra onde viveram. Um casting primoroso em mais um road movie desse interessante Payne, que cada vez mais constrói uma sólida filmografia. Seria bom se faturasse o Oscar de fotografia (mas vai ficar com Gravidade). Seu PB de fato mistura tristeza com sabedoria e charme.

GRAVIDADE

Deste já falei um pouco aqui. Há algumas proezas na direção e na fotografia. Deve levar algo por aí.

O LOBO DE WALL STREET

A melhor comédia do Scorsese. Apesar dele afirmar que o filme critica o sistema financeiro e que a imagem final revela a crueldade do lobo, o que fica mesmo é a farra que o dinheiro proporciona. DiCaprio se destaca em seu melhor papel, onde consegue dosar o charme com a loucura. Os coadjuvantes extrapolam o simples feijão com arroz (Jonah Hill já é um astro) e o roteiro de Terence Winter segura bem as três horas de projeção. Não há moral, apenas sacanagem, drogas, roubo e putaria (e tem gente que acha Hollywood careta). Como sempre, a colaboradora de Scorsese na montagem, Thelma Schoonmaker, poderia levar a estátua (mas não está nem concorrendo). Terence Winter teria que ficar com o bonequinho de melhor roteiro adaptado.

CAPITÃO PHILLIPS

Um dos bons suspenses do ano passado. Paul Greengrass tem a manha em conduzir uma ação. Ele consegue nos situar em qualquer espaço. A composição da imagem é sublime, passando do navio grande para a pequena embarcação. O aspecto político aparece aos poucos e no final engole a todos. Tom Hanks bate bola com naturalidade com Barkhad Abdi. Não deve ganhar nada, mas merece ser visto.

DALLAS BUYERS CLUB

Matthew McConaughey se agigantou nos útimos anos. É o nome do filme, não tem jeito (e olha que Jared Leto está muito bem). Apesar que não acho que essa obra de Jean-Marc Vallée seja tão simplista assim como alguns pintam. O caubói quer ficar o maior tempo possível sentado no touro da vida (não resisti a essa péssima imagem), mas isso não significa que se tornou um defensor dos homossexuais. Deve ficar com o prêmio de ator.

TRAPAÇA

Não entendi muito bem o que viram em mais um filmeco do David O. Russell. Ou até entendo, porque o sujeito é esperto em dar destaque para os aspectos físicos de seus personagens: a pança do Bale, o cabelo do Bradley, os peitinho de Amy Adams e os peitões de Jennifer Lawrence. Todos bem, divertidos, mas a trama começa engenhosa, com uma narrativa empolgante, e depois cai violentamente, deixando a última meia hora sonolenta, sem surpresas. Deve levar alguma coisa entre os atores.

PHILOMENA

Não vi. Mas o trailer já mostra que Judi Dench continua sublime.

Um comentário em “Oscar 2014: o ano dos intérpretes

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  1. Eu amei as interpretações em Trapaça. Quase me mato com o mala do Christian Bale arrumando o cabelo, Bradley Cooper imitando o chefe no sofá e a musa JLaw em TODAS as cenas. Sem contar a participação do De Niro – hilária!. Concordo que a narrativa cansa mesmo um pouco.

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