Num trecho do documentário American in Primetime, o roteirista e showrunner David Chase comenta que uma de suas inspirações para criar The Sopranos foi o seriado The Honeymooners, da década de 50.
No filme, muitos atores, diretores, produtores e roteiristas elencam suas influências televisivas. O doc se mostra eficiente por registrar o avanço da dramaturgia dos EUA e como eles conseguiram se transformar no principal pólo de qualidade quando o assunto é série.
Então temos o Brasil. Por uma daquelas coincidências, li dia desses no Estadão que nove produtos nacionais estão no ranking das séries mais vistas recentemente na TV paga brasileira. Algumas delas:
• Vai que Cola (1º)
• Cilada (6º)
• Uma Rua Sem Vergonha (7º)
• Contos do Edgar (15º)
• Meu Passado me Condena (16º)
• Surtadas na Yoga (20º)
• Se Eu Fosse Você (21º)
Só não cito as outras duas porque não estavam na coluna.
Então pergunto: alguns desses títulos estará na lista de referências do futuro David Chase brasileiro? A resposta: não – pelo menos se esse cara escrever algo tão brilhante quanto The Sopranos.
Olhe com cuidado novamente quais são as séries. Fica difícil fazer uma lista de baixo pra cima, ou seja, qual é a pior. Surtadas na Yoga? Vai que Cola?
Eu sei, são produtos, encontraram seu público e acho isso uma maravilha.
Todos nós sabemos que uma boa porcentagem das séries dos EUA também merece a lata do lixo. Mas vai me dizer que Mad Men, Breaking Bad, True Detective, Louie, Game of Thrones, Walking Dead, Broad City, Veep – e não vou ficar aqui gastando a tela do computador – não são mais inspiradoras do que qualquer uma dessas que entraram no ranking das mais vistas no Brasil?
Ou você acha que vai surgir um David Chase de Uma Rua Sem Vergonha? Não, não vai.
Toda essa tralha ocupa um mercado – de novo: isso é ótimo. Mas não inspira, não leva ninguém pra frente, não importa, não é bom.
Ou… Não. E viva Caetano Veloso. Vamos tentar levar isso pelo lado bom e lembrar de Stanley Kubrick, que mencionou alguma coisa assim sobre os filmes ruins: “esses lixos estimulam nossa capacidade de criação, pois a gente se sente motivado para provar que podemos fazer algo mil vezes melhor”.
É. Quem sabe. Talvez consigam nos provocar a produzir as melhores séries do mundo apenas para derrubar essas atrocidades do ranking. Vai saber.
Mas como seria bom ter inspirações, algo que nos levasse pra frente sem a grana do Estado e fora das TVs abertas.

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