Um e-mail sobre o novo “Godzilla”

god

De: Paulo Santos Lima

Enviada: Quarta-feira, 14 de Maio de 2014 07:04

Para: André Rodrigues

Assunto: god

André, vc foi ao Godzilla? E aí? Procurei no seu blog, e ainda nada. Fiquei interessado em ver esse Pelo Malo. No mais, me fale por aqui ou escreva.

Abraço

PSL

 

De: André Rodrigues

Enviada: Quarta-feira, 14 de Maio de 2014 10:13

Para: Paulo Santos Lima

Assunto: god

Oi, Paulo. Então, fui ao Godzilla lá no JK, sim. Aliás, que dia lindo segunda-feira. O passeio pela marginal (apesar do odor) foi a melhor parte. Fiquei parado por uns 20 minutos em cima da plataforma do trem só sacando aqueles vidros do Santander refletindo o céu. Um prédio estranho, meio monolito meio Estrela da Morte.

Bom, o Gareth Edwards é um baita diretor. Achei impressionante a construção de pontos de vista. Tanto as imagens subjetivas como as expressões da turma quando vêem os monstros são maravilhosas. E há muita força em várias tomadas (olha, usei a palavra “tomada”, que legal).

Decupagem tranquila (ao contrário dos Transformers da vida) e um início excelente, nível Spielberg, com paranóia e a família (fiquei pensando no início de Guerra dos Mundos – filme injustiçado – e também Super 8).

Mas… De novo a destruição da Golden Gate? Sério? Outro bichão feroz colocando prédios abaixo? Tsunami? Explosão nuclear? Pfui. O ótimo Pacific Rim me apresentou mais novidades ano passado nesses quesitos (com uma coreografia muito engraçadinha dos robôs).

Entendo que é um reboot, precisam contar tudo de novo etc., mas precisam mesmo?

Acho que vivemos um esgotamento desse tipo de estrutura narrativa (família precisa se encontrar enquanto o mundo passa por apocalipse muito louco).

Tudo perfeito, uma edição maravilhosa, óculos 3D confortáveis, algumas mortes bacanas, monstrinhos fofos, mas… Acho que chegou a hora de destruírem Cuiabá, Campo Grande, não sei, mudar um pouco. Faz sentido isso que eu estou falando? Senti a mesma coisa com o último Homem-Aranha (só que ainda por cima o filme é péssimo, com uma direção tenebrosa).

Acho que ninguém mais aguenta ver prédios sendo destruídos. Ou melhor, não dá mais para ver essas grandes metrópoles sendo espatifadas a cada dois meses. Nova Iorque, então… Depois do World Trade Center, como mostrar de forma original um prédio caindo naquela cidade? Talvez por isso fiquei lá curtindo aquele espelhado do triste shopping JK. Se o Godzilla saísse do rio Pinheiros, aí sim teriamos algo para contar. Como seria bonito ver o bichão acabar com aquele pedaço de mundo.

Esses filmes necessitam de uma revisão: tanto estética quanto geográfica, além de aprofundar um pouco mais os conceitos políticos e significados. Vontade de rever O Hospedeiro, do Bong Joon-ho. Que filme, hein?

Há tanta complexidade no mundo (taí o Piketty descendo a lenha), será que não dava para aproveitar melhor Bryan Cranston, Juliette Binoche, David Strathairn, Elizabeth Olsen e o bom elenco oferecendo alguns personagens numa trama Godzilla X Capital no Século 21?

Depois falam que a TV oferece mais profundidade e risco – e temos que concordar. Como se envolver com aqueles coitados dizendo frases feitas enquanto pulam de viadutos e escapam de trens desgovernados?

Ainda preciso formular melhor tudo isso. Para resumir: o filme anterior do Gareth, Monsters, é espetacular, justamente por apostar na sutileza, nas metáforas e não destruir Nova Iorque, Las Vegas ou San Francisco. Acho que é isso. Chegou a hora de oferecermos sugestões e pouparmos alguns lugares do mundo.

Abração.

2 comentários em “Um e-mail sobre o novo “Godzilla”

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