“O Grande Hotel Budapeste” e o amor pelo cinema

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Eu acho que é necessário estar, no mínimo, ligeiramente apaixonado pelo cinema para fazer um filme. Até entendo que muitas vezes o amor é somente pela grana da bilheteria, mas essa motivação poderia se restringir ao produtor, não?

O diretor, por mais medíocre e ganancioso, teria que possuir algum desejo – mesmo que íntimo e discreto – por contar uma história usando a luz. E, portanto, ser capaz de projetar um lampejo de tesão por imagens e cenas bem construídas.

Não entro aqui nos méritos do roteiro e de um bom enredo/trama ou personagens cativantes. Estou me referindo apenas ao aspecto visual da coisa, essa capacidade de preencher o campo, pensar na edição e armar o tecido do filme.

Mas parece que, pelo menos em se tratando de certas comédias nacionais, sou uma das pessoas mais ingênuas do país. Como conseguem realizar tantos minutos de película (ou dados) sem nenhum amor pelo cinema, sem um único pensamento sobre o poder da imagem? Por que fazem isso? Quais as referências deles? Por que eles se expressam pelo cinema?

Sei lá.

Porém, enquanto esse pensamento existir (“faço cinema porque os editais são legais”), teremos cada vez menos filmes e mais porcarias nas salas. O que a gente vê por aí pode ser uma conversa, um papo de boteco, um show, um programa de TV, mas não são filmes, certo?

É impossível não amar o cinema (e detestar alguns longas vagabundos) depois de ver O Grande Hotel Budapeste, a mais recente obra de Wes Anderson e, ao lado de Snowpiercer ,Boyhood (este nem vi, mas é ótimo) e The Immigrant, o melhor filme do ano até agora.

Outra vez o hipster mais bacana do cinema consegue nos fascinar com o uso do maquinário. Estão lá suas obsessões estilísticas e também uma bonita homenagem ao escritor austríaco Stefan Zweig.

Se eu precisasse definir em cinco palavras o jeitão do Wes Anderson fazer cinema, usaria:

simetria

cor

família

movimento

humor

Mas, se quiser mesmo entender a obra do sujeito, você não precisa ler nada nem gastar muito além disso aqui, um livro enorme sobre o quanto o diretor de Os Excêntricos Tenembauns e Moonrise Kingdom ama contar histórias usando a luz.

Ele tem uma filmografia tão interessante, que preciso pensar um pouco qual de seus filmes é o meu preferido. Sempre vou mudando as posições conforme a fase da minha vida. Portanto, creio que alguns desses certamente podem se tornar clássicos de uma época (a nossa, portanto).

O diretor Matt Howsam escreveu uma pequena peça curiosa no sítio Raindance em que explora dez lições de O Grande Hotel Budapeste. Eis aí uma deliciosa bobagem que serve bastante para essa turma que gosta de fazer cinema, mas só pensa no holerite.

Vejam o que Wes Anderson faz para entender por que os filmes podem ser apaixonantes.

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