3 por 1: Marcelo Starobinas

jeancharles606

Marcelo Starobinas é roteirista e jornalista, com mestrado em cinema na Columbia University. Atualmente trabalha com alguns roteiros de longas e numa série para o canal GNT.

Após 15 anos nas redações (JT, Estadão, Folha e BBC), em 2007 escreveu seu primeiro filme: Jean Charles, dirigido por Henrique Goldman. Segundo ele, até então nunca tinha lido um roteiro na vida.

Venceu a primeira edição da bolsa Capes-Fulbright para Roteiristas e se mudou para Nova Iorque.

Em 2013, de volta ao Brasil, criou a Oficina de Longas, em que compartilha o dia-a-dia do ofício de roteirista.

*

Na sua opinião, quais as melhores séries atualmente em exibição na TV? Por quê?

Breaking Bad (ainda vale, tá passando na Record, ou terminou?)

É senso comum, mas o fato de ter virado a série preferida da maioria das pessoas é sinal de que é bem escrita, né? Os personagens são maravilhosos, todos eles (a começar pelo Walt e o Jesse, mas se expande para toda a constelação de personagens – a mulher do Walt, aquele cunhado Hank sensacional, o advogado Saul).

A premissa é simples e genial. Fala de questões internas muito fortes que levamos dentro de nós (nossos lados mais escuros) e retrata com um profundo senso de ironia o tráfico e universo dos usuários de drogas. Os roteiros exploram bem as possibilidades visuais da narrativa, contam histórias boas ao mesmo tempo em que favorecem uma experiência estética rica.

Homeland

Não vi a série original israelense, mas a americana, sobretudo a primeira temporada, é de arrebentar. Não dá pra parar de assistir. De novo, o que conduz e atrai, o pilar central do roteiro é a protagonista Carrie (Claire Danes). A história perdeu energia no início da terceira temporada – me arrastei até o episódio 5, achei que tinham esgotado o repertório, abandonei a série. Meses depois, ouvi de amigos que ela melhora bem do episódio 6 em diante, voltei a assistir. A trama mirabolante para penetrar o serviço de inteligência iraniano (e as circunstâncias pessoais da Carrie enquanto está fazendo tudo aquilo) deixaram a série viciante de novo.

House of Cards

Nesta série, os bastidores da política de Washington são muito bem amarrados no roteiro – e o Kevin Spacey é um monstro no papel de Frank Underwood. Assim como em Breaking Bad e Sopranos, há algo deliciosamente perverso em histórias que nos fazem torcer pelo vilão. A direção do David Fincher, usando como dispositivo narrativo a quebra da “quarta parede” (o protagonista olha para a lente e conversa com o público durante alguns momentos importantes), é genial.

Costumo gostar de séries que tratam de política internacional – é a minha grande paixão, trabalhei por muitos anos como jornalista na cobertura internacional e morei no exterior por muitos anos. Sonho em um dia escrever algo desse gênero, em que eu possa aliar essa minha experiência do jornalismo com a nova profissão de roteirista. Já experimentei isso quando escrevi o Jean Charles, mas tenho a impressão que uma série de TV te permite ir bem mais a fundo, discutir uma gama maior de assuntos pertinentes ao tema central.

Quais as cinco séries mais bem escritas que você já viu?

Seinfeld, Breaking Bad e The Wire. E, um degrau abaixo, mas excelentes: The Newsroom e House.

(E entre as séries de animação: Os Simpsons e South Park.)

O que falta para o Brasil produzir mais séries com a qualidade dos melhores produtos televisivos norte-americanos e europeus?

Dinheiro, sobretudo para a etapa de desenvolvimento.

Capacitação profissional (em todos os níveis: roteiristas, diretores, produtores, atores, executivos dos canais, etc.).

Maior envolvimento e poder de decisão dos autores-roteiristas sobre a obra. Sejam os roteiristas showrunners ou não, eles não podem ser descartados do processo tão logo entreguem o roteiro (como se tornou praxe no mercado brasileiro).

É importante que eles continuem presentes, para dar maior clareza ao diretor sobre o tom de cada cena e a função e motivação de cada personagem. Para ajudar a esclarecer uma entonação de linha de diálogo para os atores. Para retrabalhar o roteiro quando uma descoberta nascer no processo criativo colaborativo no set. E prosseguir trabalhando durante a montagem. Para que a visão que os roteiristas criaram na sala de roteiro sobreviva até chegar ao público, que ela não se perca como num “telefone-sem-fio” em algum lugar do processo de produção da série.

Deixe um comentário

Blog no WordPress.com.

Acima ↑