Uma lista preliminar – e sem ordem de importância ou preferência – das boas coisas de 2014. Não contabilizei alguns filmes que estrearam este ano no Brasil, mas fizeram parte da temporada 2013 (Her, por exemplo).
1. Snowpiercer
A fantasia apocalíptica do sul-coreano Bong Joon Ho se passa inteiramente dentro de um trem, que cruza a Terra devastada. Político, violento e criativo, é uma peça visual essencial e dinâmica, capaz de dialogar com grandes momentos da história do cinema.
2. Ida
Uma obra-prima da sutileza. Ao falar sobre uma noviça e uma juíza que buscam resgatar os seus passados na Polônia da década de 60, o diretor Pawel Pawlikowski diz mais sobre o nosso tempo do que qualquer colunista dos jornalões brasileiros (ok, a tarefa não é tão difícil assim). A fotografia impressiona, mas não rouba a cena, nos deixando perplexos com tanto rigor na encenação e nos cortes. Brilhante – e com duas atrizes fenomenais.
Wes Anderson é um dos diretores mais vibrantes do cinema hoje. Sua estética hipster encontra aqui um tema grandioso e imponente. O casamento é sublime.
Ainda escuto a trilha sonora grave e acachapante todos os dias. Noturno e apaixonante, talvez o melhor Jarmusch em anos.
5. Under the Skin
Traz o intrigante magnetismo de um dos melhores físicos do cinema atual (Scarlett Johansson) e provoca muitas sensações (alguns devem até mesmo ter ódio de um certo ar “masturbatório”). Um trabalho visual competente e cheio de força de Jonathan Glazer (e a trilha…).
6. The Immigrant
Esqueça o título em português desse belo filme de James Gray (que nunca fez um longa mais ou menos). Além dos planos oníricos de uma Nova Iorque esquecida, há atuações gloriosas de Marion Coutillard, Jeremy Renner e, claro, Joaquin Phoenix (um monstro, como sempre).
7. Manakamana
Documentário sobre um teleférico no Nepal que traz todas as perguntas que importam quando assistimos a um filme. O que significam essas imagens? Quem são essas pessoas? Por que nos jogamos com tanta curiosidade sobre a vida dos outros? Um clássico.
8. Pelo Malo
Simbólico sem ser pedante, político sem ser panfletário, engraçado sem ser bobo, dramático sem ser piegas. Muita coisa dá certo nesse trabalho de Mariana Rondón. Entre as coisas boas, as atuações e o cenário assustador.
9. Bem-Vindo a Nova Iorque
Dividido em três partes, todas contundentes e fortes, dignas dos melhores momentos de Ferrara. O primeiro trecho, com Depardieu jogando seu corpo troglodita nas pequenas é uma absurda síntese do poder machista da sociedade. O segundo, com a sua prisão, uma terrível constatação do poder do Estado. A terceira, quando Jacqueline Bisset entra em cena e arrebenta, um amargo relance do poder da família e da propriedade. Por trás de tudo, a grana.
10. Eles Voltam
Uma grande jóia de Marcelo Lordello. Um Som ao Redor da molecada. A descoberta do mundo (injusto) por uma garota (a estupenda Maria Luiza Tavares) esperta. Trabalho notável. Um dia eu gostaria de ser ministro da Cultura apenas para subvencionar filmes realizados em Pernambuco.
11. O Lobo Atrás da Porta
Não me conformo com o fracasso desse ótimo thriller de Fernando Coimbra. Muito bem construído, com ótimo roteiros, atuações firmes do trio principal e… Simplesmente não aconteceu. Muito bom de se ver e com um final chocante – além de mostrar um Rio de Janeiro invisível.
12. Life Itself
O documentário sobre o crítico de cinema Roger Ebert. Um filme sobre o amor (pelo cinema e de uma mulher por um homem).
