Esta é uma lista que já nasce picareta porque é possível acompanhar só uns 23,5% das séries – e estou falando apenas dos EUA. Portanto, eu queria muito colocar The Americans, The Good Wife, You’re the Worst ou Hannibal (e outras coisas híbridas como Drunk History), por exemplo, nas minhas 15 mais. Só que não dá. O volume de lançamentos de destaques é realmente fenomenal (mais aqui).
Pra gente cravar algum adjetivo consistente, acredito que devemos ver muitos (pelo menos 70%?) dos episódios da temporada. Abaixo estão as melhores séries de 2014 – entre aquelas que vi tudo o que exibiram neste ano – numa lista sem ordem.
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Ainda não sei direito o que Louis C.K. fez este ano. Episódios duplos, triplos, alguns super provocativos, outros com as cenas mais singelas da temporada. Uma maluquice surpreendente. Dirigiu, escreveu, atuou, editou e mostrou como o mundo autoral também sobrevive – e bem – na TV. Se não fez a melhor temporada, foi a mais cheia de deliciosos riscos.
FARGO
A gente se acostumou com aqueles teasers (prólogos) brilhantes de Breaking Bad e achava que ninguém chegaria aos pés dos roteiristas comandados pelo Vince Gilligan. Pois Fargo carrega algumas das aberturas mais acachapantes da televisão. A série (ou minissérie) foi muito bem dirigida, com uma profundidade de campo espetacular, violência e dois atores geniais: Martin Freeman e Billy Bob Thorton. O episódio da chacina no prédio espelhado é um espetáculo.
HOMELAND
Eu juro que vi a torcida do Corinthians gritando: “Ah, a Carrie voltou! A Carrie voltou! Ôooo!”. Um banho de suspense. A quarta temporada de Homeland arrepiou até aquela tia que tinha achado meio chato o romance da Carrie com o Brody (e ela não terminou, eu sei, mas podem estragar tudo que ela não sai da lista). Com quase toda a ação no Paquistão, centro nervoso do terrorismo e do conflito Ocidente x Oriente, os episódios foram tão bem amarrados que a gente até desconfia que os roteiristas são mesmo da CIA. Um exemplo de narrativa bomba-relógio, com a gente sabendo um pouco mais do que os protagonistas – e descobrindo outras tantas com eles. Um equilíbrio absoluto. Ah, e ela: Claire Danes. Fico sempre meio culpado por ter uma tara por essa psicopata.
TRANSPARENT
A melhor série que emula o cinema dos anos 70 dos EUA. Bem interpretada, ela segue com energia os protagonistas e procura nos emocionar sem ser piegas. Há uma construção muito bem elaborada, um texto preciso, com tudo no lugar. Curioso para ver uma nova temporada mais suja, sem plantar e pagar tantas coisas. Com o tempo, ela começou a me parecer certinha demais (até o título é de uma sacação ímpar).
SILICON VALLEY
Cara, eu me diverti muito com essa. A melhor comédia do ano. Ótimos personagens, piadas espetaculares (e olha que não entendo nada de tecnologia) e cenas bem arquitetadas. O elenco ajuda, claro, e sempre é uma curtição ver a turma sacaneando os hipsters. Mas o que vale é saber que dá pra tirar onda desses meninos de moletom que se acham os donos do mundo só porque sabem teclar rapidinho uns comandos absurdos.
O que mais me encantou nessa adaptação do ótimo livro do Tom Perrotta foi a ousadia narrativa. De fato, cada episódio é um pequeno filme, com suas regras próprias. Do meio para o final, começou a ficar mais convencional, com os protagonistas dominando tudo. Mas os cinco primeiros episódios apontam para direções opostas e são tão fascinantes que prendem feito um feitiço.
GAME OF THRONES
Confesso que pulei alguns episódios das temporadas anteriores para tentar acompanhar tudo este ano. Apesar de uns excessos macabros, as ações caminham com bastante harmonia. Morre quem tem que morrer e continua quem merece. A produção é espantosa. Tira minha vontade de ir ao cinema e ver mais uma adaptação do Tolkien. Aliás, outro dia me peguei contando um enredo de Game of Thrones como se fosse da trilogia do Hobbit. Então, pra quem gosta, vale demais ver dragões, mulheres fortes e um anão porreta em cena.
JANE THE VIRGIN
Já escrevi sobre ela aqui. Só melhora. Divertidíssima, com boas piadas e uma trama que parece ser infinita. E uns atores sublimes. Além do ritmo alucinante, tem um dos melhores narradores da dramaturgia recente. Também ainda não terminou, mas fica.
VEEP
Pela primeira vez fiquei um pouco cansado dela. Os episódios foram irregulares e bem baseados na política norte-americana. Mesmo assim tem um ótimo elenco (todas as séries têm, impressionante) e ela, a madame Julia Louis-Dreyfus.
THE WALKING DEAD
Não dá pra não ver. Pode ser até de olhos fechados, mas a coisa pega bem. Tudo é tão patético e divertido, que a gente torce para nunca chegar ao fim. Como viver sem ver uns 29.342 zumbis tendo os cérebros perfurados por temporada? As narrativas sempre se abrem de uma forma confusa, mas atraente. Ficamos dois, três episódios num núcleo; depois voltamos para outro; e assim seguimos.
BROAD CITY
Também escrevi sobre ela este ano. Louco para ver os novos episódios daqui a poucos dias. Espero que continuem com essa anarquia maravilhosa.
MAD MEN
O melhor texto da TV. Na próxima, Don Draper vai embora de vez. Difícil pensar nisso. Os episódios deste ano foram irregulares, mas alguns se tornaram os mais interessantes de todas as temporadas. Como não aplaudir de pé aquele final com o musical?
Explorada bastante por todos os lados. Um plano-sequência de arrepiar, uma dupla explosiva etc. Foi tanto hype, que hoje a gente parece cansado dela. Mas é ótima.
Arrebentou. Pra mim, garantiram mais Jack Bauer no futuro. O treco todo é bom demais para ser deixado de lado.
THE KNICK
A única que peço permissão para furar meu próprio critério (tá, fiz isso com Homeland e Jane the Virgin também). Ainda não vi todos os episódios deste brilhante trabalho do Soderbergh, mas ele já deixou marcas profundas na estética da TV. Um espetáculo macabro, com uma direção de arte primorosa. As cenas na sala de cirurgia (que também é sala de aula) merecem ser estudadas pelo rigor de decupagem e estrutura. Um banho de beleza, daquelas séries que você assiste pelos vãos dos dedos, agoniado com as imagens fortes e escandalosas, mas fascinado pela técnica que irradia.
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